"Com Mlynarczick desaparecido, encontro no aeroporto de Mião deu em nada; Ideia de Mourinho no Benfica foi dele
1. Artur Jorge fora para Paris, Quinito passara a treinador - e Mlynarczick que ajudara o FC Porto a ganhar a Taça dos Campeões Europeus em Viena andava desaparecido das Antas. Foi então que, cruzando-se com ele no aeroporto de Milão, Pinto da Costa o desafiou a assinar pelo FC Porto, mas ele agradeceu e recusou. Continuou no Malines, no Malines acabara de ganhar ao Ajax a Taça das Taças - e estava a caminho de vencer também a Supertaça Europeia. Ao Malines chegara em 1985 - para lá fora do Standard de Liège, clube onde descobrira o seu destino ainda antes de fazer 10 anos.
2. Sucessor de Pfaff na baliza da Bélgica, no Mundial de Itália pedira à FIFA para usar óculos durante os jogos para, assim, evitar maus efeitos do sol - e, quatro anos depois, uma das imagens marcantes do Mundial dos Estados Unidos é dele a subir, desesperado, à área contraria na ânsia de evitar que a Alemanha roubasse à Bélgica o bilhete de passagem aos quartos de final. Não, não foi capaz de fazer o 3-3 ou ajudar a fazê-lo - mas saiu de lá a caminho da Luz, com mais história: as defesas que fizera valeram-lhe o Troféu Lev Yashin para Melhor Guarda-Redes do Campeonato do Mundo. (Outro belga, o Courtois largou o Rússia-2018 em igual façanha).
3. Antes dele, o Benfica não tivera nenhum guarda-redes estrangeiro - e, ele próprio o revelou, ao chegar à Luz a sensação que teve foi: «Tinha 35 anos e todos diziam: O gajo é bom, mas está velho! Era como se eu tivesse vindo para o Benfica apenas para preparar a reforma - e em cinco temporadas provei que não. Deixei de jogar aos 40 e por mim continuava muito anitos».
4. O seu primeiro treinador no Benfica foi Artur Jorge - e nas cinco primeiras jornadas do Campeonato de 94/95 ninguém conseguiu fazer-lhe golo. O primeiro que sofreu, marcou-o Yuran. Foi o jogo em que o FC Porto empatou 1-1 na Luz - e Artur Jorge não pôde estar no banco por via das complicações que o obrigaram a operação à cabeça.
5. Por várias vezes, o repetiu: «Tenha pena de não ter sido campeão no Benfica, não o fui porque o FC Porto era muito melhor». Ganhou apenas uma Taça de Portugal, a de 95/96 - a que ficou marcada pelo drama do very light: o Benfica de Mário Wilson bateu o Sporting de Octávio Machado por 3-1 - e quem lhe marcou o golo foi Carlos Xavier de penalty...
6. Para ele, o melhor jogo que fez pelo Benfica foi o que perdeu na Luz contra a Fiorentina de Rui Costa para a Taça das Taças, «Ganharam-nos por 2-0, Batistuta fez jogo extraordinário, deixou-me as mãos a arder». Na segunda mão o Benfica de Manuel José foi ganhar a Florença, o golo de Edgar não chegou para a passagem.
7. O seu último jogo para o campeonato foi à 31.ª jornada da edição de 98/99 no Bonfim - e melhor poderia ter sido esse seu fim: Toñito marcou-lhe o golo que deu a vitória ao Setúbal, no banco do Benfica estava Shéu, Souness fora despedido na sequência do empate do Campomaiorense na Luz, aí o golo que sofreu, sofreu-o de Wellington.
8. Em Agosto de 1999, o Benfica deu-lhe em honra jogo de despedida - contra o Bayern. Quando deixou a baliza e para o seu lugar foi Bossio, as bancadas agitaram-se em tremendo aplauso - e dando, em agradecimento, a volta de honra à Luz não havia entre os 80 mil espectadores quem não o visse como Saint Michel.
9. Vale e Azevedo deu-lhe lugar de director desportivo - e, a dado instante pediu-lhe que arranjasse um «grande treinador». Lembrou-se de um - com quem estivera em Barcelona num encontro que era para ser de uma hora e acabou em cinco: «a falar de futebol, tácticas, paixão - e lá pelo meio me disse que era adjunto e queria passar a principal». Era o José Mourinho.
10. Ao dizer ao presidente que tinha lista com vários perfis, mas que devia ser escolher um que nem sequer era treinador. Vale embasbacou-se: «Não é treinador e tu queres que ele seja treinador do Benfica?!» Falou-lhe, convicto, do seu feeling e convenceu-o: «Liguei para o Porto a pedir-lhe que viesse de pronto a Lisboa. Mourinho chegou às 10 da noite e as duas da manhã estava a assinar contrato no escritório de Vale e Azevedo...»"
António Simões, in A Bola
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