"A importância que os árbitros têm impõe-lhes que não tomem medidas sem a devida reflexão sobre as consequências.
Aconteceu, neste fim-de-semana, a jornada que esteve para não acontecer.
Há cerca de vinte e poucos dias a quase totalidade dos árbitros e árbitros assistentes do futebol profissional enviaram pedido de dispensa para o passado fim-de-semana. Através de um comunicado da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), esclareceram que se tratava de uma medida de protesto e identificaram alguns pressupostos que, caso não se estivessem a verificar na passada semana, fariam com que os campeonatos profissionais parassem. Considero importante recordar aqui aquele que terá sido o pressuposto mais forte e aquele que terá levado à posição de pseudo-força dos árbitros:
“A ausência dos árbitros nas competições profissionais será efectiva, nessa data (jornada deste fim-de-semana), caso não se verifiquem os seguintes pressupostos: total ausência de insinuações, da parte de clubes e agentes desportivos, que coloquem em causa a honra e o bom nome dos árbitros; por clubes e agentes desportivos entendem-se os seus dirigentes, treinadores, jogadores e demais funcionários, os meios de comunicação próprios e aqueles que promovem nas redes sociais;
O período de 20 dias com total ausência de insinuações deve abranger todas estas pessoas e meios. Para que não restem dúvidas, entendemos por insinuações: acusar os árbitros de errarem de forma propositada; acusar árbitros de prejudicarem sempre o mesmo clube; referirem-se, directa ou indirectamente, a qualquer acto não provado de corrupção; aplicar aos árbitros, de forma directa ou indirecta, expressões como “polvo”, “padre”, “diácono” ou “apito dourado”, entre outras infelizmente utilizadas por diversos clubes já esta época”.
Deverá o leitor apelar à sua memória de curto prazo para fazer uma reflexão sobre o que se passou nas últimas semanas e avaliar se efectivamente se viveu um “período de 20 dias com total ausência de insinuações”.
Os árbitros, esses, também terão feito a sua reflexão e, aparentemente, sentem-se confortáveis com o comportamento dos clubes e agentes desportivos no referido período.
Entendo que uma greve, mesmo que mascarada de “dispensa de actuação”, é um instrumento a utilizar apenas em situações limite. Situações de extrema gravidade. Situações que, na verdade, foram acontecendo nos últimos tempos e que, por isso, legitimavam uma tomada de posição mais dura por parte dos árbitros. Tanto que até o presidente da Federação Portuguesa de Futebol teve declarações neste sentido.
No entanto, a importância e responsabilidade que os árbitros — e, já agora, a APAF — têm no futebol português impõem-lhes que não tomem medidas — ameaças — sem a devida reflexão sobre as consequências das mesmas. Não menos importante, não podem tomar posições públicas desta dimensão sem a certeza de existirem condições internas e externas ao grupo dos árbitros para assumir essa decisão.
O título, de autoria de Confúcio, um filósofo e pensador chinês que viveu há cerca de 2500 anos, diz tudo..."
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