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terça-feira, 6 de dezembro de 2022

5 melhores momentos na Taça da Liga


"Em pausa nacional para peripécias mundialistas, entretêm-se os artistas portugueses com futebóis secundários de Taça da Liga – que, remetida para segundo plano no calendário nacional, perde alguma da já mísera credibilidade que ganhara a muito custo na última década. O SL Benfica passa período de seca em relação a conquistas da prova, na qual é recordista, e com Roger Schmidt promete-se retoma competitiva e novo ciclo positivo de conquistas, para deixar os rivais ainda mais atrás na tabela.
O Bola na Rede decidiu então reunir os cinco momentos mais marcantes dos encarnados na prova, em jeito de revisão histórica e como prognóstico de novos sucessos que, como desejam os benfiquistas, cheguem já em 2023 – a matéria-prima disponível obriga a sonhar pelo menos com o pleno nacional de troféus. Vai bem lançada a equipa no campeonato e na Taça, à data da redacção do artigo o Benfica vai na frente do grupo da terceira prova com duas vitórias – e, daí, que este reavivar de memória sirva de inspiração para continuar o bom caminho.

1.
3-0 na Final – 2009-10



Era a fase cor-de-rosa entre Jesus e clube. Para quem não tinha apanhado a equipa 1993-94, de Toni, aquele onze era o mais aproximado que podíamos atestar das conversas de pais e avôs sobre o Grande Benfica que ia às finais europeias. A equipa estava exemplarmente bem montada, o futebol era achocolatado e os craques entendiam-se perfeitamente – tudo era harmonia, um conto de fadas que teria um fim bem mais abrupto do que se imaginava. Mas naquele final de noite, o zénite da comunhão entre o Benfica 2009-10 e a massa adepta foi alcançado. Sobre o rival mais a sério, para saber ainda melhor. Mas não só.
Para compôr o ramalhete, tinha havido noite europeia memorável três dias antes (na 5.ª feira, a final da Taça da Liga foi somingo): aquela vitória em Marselha assinada por Alan Kardec já perto do fim – o que significava que as melhores peças estavam todas desgastadas. Jesus não vai de modas e deixa Javi Garcia, Ramires, Saviola e Cardozo no banco de suplentes. Airton, Amorim, Carlos Martins e o herói de França saltavam para a titularidade, Aimar subia para segundo-avançado. Aos que tinham dúvidas quanto à capacidade daquele conjunto em ganhar o troféu, respondeu o actual treinador do Sporting com um remate do meio da rua logo nos minutos iniciais – que Nuno Espírito Santo deixou entrar para junto das redes enquanto cacarejava…
O jogo foi um festim de frustração portista contra a confiança imensurável dos benfiquistas. Foi também à lei da bomba que Carlos Martins fez o segundo antes do intervalo e o 3-0 chegou novamente por intermédio de Amorim, que assistiu Cardozo depois duma tabelinha em ritmo de treino. Era efectivamente um grande futebol.
Seis dias depois, jogo do título na Luz. Recebia-se o SC Braga de Domingos, sempre chato a morder os calcanhares na tabela classificativa. Luisão assumiu o papel ‘clutch’ de homem para grandes momentos e deu a machadada do 1-0. O resto é história…

2.
Luisão e a Festa Contrariada – 2010-11



Desastrada foi a segunda época de Jesus, com um percurso repleto de hecatombes futebolísticas e traumas que acentuaram complexos de inferioridade com o FC Porto. Aos 5-0 do inicio de Novembro, o Benfica juntou o 1-2 para o campeonato a 3 de Abril – o clutch do título, o tal jogo em que a Luz ficou sem luz… – e o 1-3 da Taça, a 20 de Abril, no tal jogo que o Benfica trazia dois de avanço do Dragão: portanto, derrota a toda a linha contra Villas Boas. Estado anímico no charco, depois de quase ter sido recuperado minimamente naquela fase das 16 vitórias seguidas – batendo-se um recorde que vinha de Jimmy Hagan -, quando Salvio começou a carburar e a fazer esquecer Ramires, finalmente. Mas nessa época, esses três meses (entre Dezembro e Março, vá) foram a única luz numa escuridão imensa de teimosias e atestados de incompetência.
Três dias depois (a 23 de Abril) dessa definitiva prova que o Benfica de 2009-10 não era ainda garantia duma qualquer retoma competitiva do gigante, o Benfica ia a Coimbra disputar com o Paços de Ferreira (de Rui Vitória) o troféu da Taça da Liga. Já não havia Salvio, Gaitán tinha também dado o berro, e as alas foram compostas por Carlos Martins e… Franco Jara, o autor do primeiro golo. Javi Garcia faz o segundo perto do intervalo, Luisão faz o golo pacense no início da segunda metade – e o resto do jogo foi mais um martírio para o comum adepto e o torturado benfiquista. A festa, claro está, fez-se a meio gás e sem grandes euforias, que na bancada do Cidade de Coimbra os adeptos cobravam mais que respondiam aos falhados festejos encarnados, quase que adivinhando o novo desastre que aí vinha: cinco dias depois, o Benfica ainda conseguia ultrapassar o Braga de Domingos na 1.ª mão das Meias da Liga Europa (2-1) mas a 5 de Maio havia derrota na Pedreira, que deitava ao chão os encarnados – muitos deles aliviados por evitarem novo confronto com portistas em Dublin, com a Europa toda a ver…

3.
Oblak no Dragão – 2013-14



A 16 de Abril de 2014, acontece o 3-1 de André Gomes, a tal segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal em que o Benfica joga 64 minutos com menos um e consegue virar a eliminatória em grande estilo – e nada poderia engrandecer ainda mais a humilhação portista se 11 dias depois a coisa se repetisse… em pleno Dragão.
As águias jogavam aquela meia-final da Taça da Liga três dias depois de terem afrontado a Juventus de Conte, Pirlo e Pogba na Luz (2-1) e portanto a prioridade de Jorge Jesus foi rodar a equipa – só sobraram Oblak, Siqueira e Lima do onze titular daquela época. Steven Vitória tinha jogado tão pouco até aí que sente a falta de ritmo e tem dificuldades em lidar com Jackson Martínez. Aos 32 derruba o portentoso colombiano e é expulso, ordem de Marco Ferreira, árbitro madeirense. O Benfica ficava novamente em inferioridade númerica e não tinha as motas – Markovic, Rodrigo e Gaitán – para acelerar jogo na frente. «Alguns jogadores, como Steven Vitória, Ivan Cavaleiro, Sulejmani, Rúben Amorim, que há um mês não jogava, e até Cardozo, não são tão rápidos para jogar em contra-ataque, mas o Benfica esteve melhor a defender com 10 que com 11» explicou depois o técnico encarnado a abordagem no resto do jogo: contenção, um jogo de espera e organização defensiva (sem qualquer interesse pelo golo) que tornou aquele Porto, já de si limitado, atrozmente inofensivo – apesar de ter Danilo, Alex Sandro, Jackson, Quaresma ou Juan Quintero em campo.
Na chegada às penalidades, Oblak mostrou porque poderia ser o que se tornou – um keeper geracional – gelando o Dragão com uma frieza que há muito não se via na Luz e desde aí só lampejos semelhantes em Ederson. Oblak nessa época sofreu, nos 26 jogos que efectuou… seis golos. SEIS GOLOS.

4.
As Lágrimas de Nico – 2015-16



A última Taça da Liga conquistada pelo Benfica foi conseguida com uma espectacular vitória por 6-2, com uma demonstração do melhor futebol que aquele Benfica 15/16 de Rui Vitória produziu (na segunda volta, sim), quando Pizzi-Jonas-Renato-Nico se entretiam em malabarismos antes de servir Mitroglou. A noite mágica de futebol serviu para honrar e distrair o ilusionista principal, triste pela despedida já mais que anunciada rumo a Madrid numa transferência inevitável, por todas as maravilhosas coisas que Nico criou por cá.
Mas o choro desalmado no momento em que é substituido deixou desde logo á vista parte do seu sofrimento, enternecendo ainda mais os benfiquistas – que encheram o Cidade de Coimbra principalmente para lhe desejar boa sorte. Toda aquela melancolia deixava antever, se quiseremos imputar ao drama do momento um certo tom premonitório, um fracasso anunciado: Nico nunca foi feliz naquele futebol de encontrões e acabou definitivamente para o futebol de elite. Sabendo o que sabe hoje, talvez tivesse voltado atrás na decisão, mas à altura o Atleti, no auge da era Simeone, era realmente portentoso, com uma capacidade diferente de atrair que em 2022.
Antes de Félix, já alguém havia comprometido a carreira ao mudar-se para o Calderón/Metropolitano. Mas Nico também justificou inteiramente a oportunidade numa Liga de topo. Ainda mais que o prodígio português…

5.
O Fim do Reinado – 2016-17



Nove anos e três meses depois, 42 jogos cumpridos, o Benfica que ganhara sete Taças da Liga de rajada e se comprometia com um instinto ditatorial sobre a competição, perde finalmente – e, depois de estar a ganhar ao intervalo, fraqueja 3-1 com aquele Moreirense FC de Augusto Inácio, que espantou tudo e todos naquela final four (contornou o Braga de Jorge Simão na final, 1-0, conquistando troféu inédito na sua história). Para benfiquistas, seria o inicio da caminhada no deserto que dura até hoje.
O Moreirense já tinha ganho o grupo ao FC Porto de Nuno Espírito Santo e ia jogar contra o Benfica nas meias-finais, o que se adivinhava como passadeira vermelha e show para inglês ver – que o Benfica confirmaria facilmente o estatuto de super-favorito. Mas havia Geraldes a querer aparecer, Podence e Dramé, três leõezinhos emprestados em Moreira de Cónegos que naquela noite esfrangalharam a águia e expuseram todas as fragilidades dum já decadente sistema de Rui Vitória – que falhou a toda a linha quando a dificuldade apertou (Nápoles de Sarri, Dortmund de Tuchel) e agora, á distância de meia dúzia de anos, é fácil entender que a humilhante 2017-18 não foi só obra de azar ou mau planeamento – o sistema já tinha estagnado e estava em acelerada regressão competitiva para níveis da década anterior.
Isto foi a 26 de Janeiro. A 30, em visita ao Bonfim, o Benfica perde novamente com o Vitória sadino (1-0). Foi uma semana complicada numa época que acabaria em dobradinha, que ajudaria a camuflar muitas más ideias quanto ao futebol do Benfica."

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