"O Benfica viu gorada a sua aspiração europeia por lhe ter calhado a face errada da moeda
Na temporada 1969/70, o Benfica, após ter eliminado o KB Copenhaga na 1.ª eliminatória da Taça dos Clubes Campeões Europeus, defrontou o Celtic. Na 1.ª mão, os 'encarnados' deslocaram-se à Escócia e foram surpreendidos, sendo derrotados por 3-0. Ainda assim, os adeptos confiavam que os benfiquistas dariam a volta ao resultado em casa.
Contudo, o trevo de quatro folhas do símbolo dos escoceses parecia estar a captar toda a sorte para o seu lado. Dias antes do jogo da 2.ª mão, ficaram confirmadas as ausências de Humberto Coelho e Torres pode lesão. E no dia da partida, a 26 de Novembro de 1969, Eusébio estava com '30 graus de febre', a implorar para jogar. O treinador do Benfica, Otto Glória, fez-lhe a vontade. O 'Pantera Negra' abriu o marcador, mas saiu ao intervalo, quando os benfiquistas venciam por 2-0. No segundo tempo, Diamantino aumentou a vantagem, igualando o resultado na eliminatória. O encontro foi para prolongamento, sem que alguma das equipas alterasse o placard.
Desta forma, foi necessário recorrer-se à moeda ao ar para se apurar o vencedor. na cabine do árbitro holandês, Laurens Van Ravens, a moeda foi lançada uma primeira vez, para se saber quem teria direito a escolher o verso da moeda para a decisão do clube vencedor, e a sorte sorriu ao Celtic. O capitão dos escoceses, McNeill, optou pelo mesmo lado, o que deu alguma esperança a Coluna, 'que ficou convencido de que o Benfica seria apurado pois não acreditava que voltasse a cair do mesmo lado da moeda'. A verdade é que, na escolha entre verde e encarnado, a sorte teimava em optar pelo verde, saindo a mesmo face da moeda.
A eliminação gerou enorme insatisfação tanto na comitiva do Benfica como na imprensa nacional. Eusébio vociferou: 'moeda ao ar... que hei-de de dizer? Mais uma vez, fomos eliminados num prolongamento. Mas... não foi pelo jogo. Foi por uma «estúpida» moeda'. Fernando Cabrita criticou este método: 'no Benfica, esta época, foi na «Taça de Honra» no ano passado, foi na «Ribeiro dos Reis». Acabem com «isto» da morda ao ar'. Mário Zambujal corroborou com a ideia de se pôr termo a esta prática, principalmente numa competição com 'grandes interesses financeiros', afirmando 'que o Benfica perdeu por ter escolhido a face errada. Que o Celtic ganhou por ter apostado na outra. Talvez poucas vezes tenha acontecido, mesmo em Monte-Carlo ou Las Vegas, jogar-se assim, numa fracção de segundo, uma tal fortuna'. As críticas a este método surtiram efeito e, a 5 de Maio de 1970, a UEFA aboliu esse sistema das suas competições. Assim, Benfica e Spartak Trnava, que tinha sido eliminado no mesmo dia que os 'encarnados', foram os últimos clubes a perderem na moeda ao ar. Saiba mais sobre esta competição europeia na área 12 - Honrar o País no Museu Benfica - Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica
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