"Será mesmo necessário sacrificar o espírito essencial da prova - ... sem campeonatos não há campeões -, amputá-la da sua componente competitiva, só para salvar as vidas de uma administração? Parece-me uma solução exagerada e pouco democrática
Os ingleses, no intuito de levar a Premier League até ao fim, colocaram a hipótese de disputar na China as jornadas em falta. Os portugueses, não tendo a China à mão, ponderam a hipótese de achinesar o Algarve para que a nossa província mais meridional receba nos meses de Junho e de Julho as 10 jornadas restantes da Liga. Os 90 jogos do campeonato distribuir-se-iam pelos estádios algarvios, do campo do Beira-Mar de Monte Gordo ao campo do Moncarapachense, do campo do Bensafrim ao campo do Silves, passando, naturalmente por Olhão, Portimão e Vila Real de Santo António para tudo terminar, em glória, numa jornada final toda no mesmo dia e, ininterruptamente no Estádio do Algarve, com o primeiro jogo a começar às 8 da manhã, que é muito boa hora para se estar a pé, e com o último jogo a arrancar pelas 9 e meia da noite já depois do sol-posto e com o relvado num estado miserável.
O meu antigo colega e amigo de infância Rui Santos apontou, porém, outra solução 'Se salvar vidas, atribua-se o título ao FC Porto'. Chegou o dia em que nunca estive tão de acordo e, ao mesmo tempo, tão em desacordo com o Rui Santos. Entregar o título de campeão, sem que o campeonato tivesse terminado, ao FC porto salvaria de certeza, as vidas de toda a administração da SAD do FC Porto e da sua cascata de funcionários diligentes em tempo de falência à vista e de eleições com candidatos a sério e tudo. Mas será necessário sacrificar o espírito essencial da prova - é que sem campeonatos não há campeões -, amputá-la da sua componente competitiva, só para salvar uma administração? Parece-me uma solução exagerada e pouco democrática.
Na Bélgica, cheia depressa, a liga nacional não foi em Chinas nem em outros lazaretos e decidiu atribuir o título de campeão a quem ia na frente quando o vírus lá chegou. A UEFA veio ontem questionar a participação das equipas belgas nas competições da UEFA 2020/21 'dado que a participação se determina pelo resultado desportivo alcançado no final das provas nacionais dadas concluídas por completo e uma finalização prematura levanta dúvidas sobre o cumprimento dessa condição'. Se em Portugal, salvar vidas passa por dar o título já ao FC Porto, será de bom-tom perguntara Pinto da Costa e aos seus pares se, vidas por vidas, não preferem, ainda assim, tentar ir à Liga dos Campeões e açambarcar a maçaroca pela via normal que é a apontada pela UEFA, ou seja, jogando os joguinhos todos sob o nosso Sol, sabe-se lá quando.
O Benfica em Fevereiro a jogar à bola foi uma lástima. De meados de Março até este início de Abril, a cumprir a sua função de obra social o Benfica tem sido excepcional. No entanto, se quiser ser (outra vez) campeão de futebol, tem de fazer os 10 jogos que faltam. Neste capítulo não se consentem excepcionalidades."
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