"Não é fácil esta vida de quarentena. E não estou a falar da minha, que estou sentado em casa a escrever, com tranquilidade, boa net, frigorífico abastecido e família em segurança. Eu não me queixo, limito-me a cumprir a minha parte para que todos terminemos vencedores, como espero que vocês também estejam a fazer.
O que me anda a incomodar são outras vidas.
Imaginemos aquele senhor que tem dificuldade em manter o cuspo dentro da boca sempre que diz mal do Sport Lisboa e Benfica. Como pode ele agora comentar, insinuar, mentir, fingir, atacar, dar azo à sua loucura em directo na televisão? Com a covid-19, eu sei bem quem é que não se sentaria à sua frente com risco de apanhar uma das milhentas gotas de saliva...
Ou será veneno?
E o que dizer do outro que não vive sem dar bicadas através do passarinho azul? Sim, esse, o funcionário do mês que vai ter tantas explicações para dar em tribunal. Com os campeonatos parados, como pode ele inventar mais linhas imaginárias, desculpas de mau pagador (literalmente) e truncar e-mails para cozinhar o seu polvo, duro, ressequido, sem gosto?
Como deve estar a ser difícil a vida desta gente que precisa do Benfica para viver. Passam os dias fechados nas suas cavernas, à espera de qualquer migalha para fazer um banquete, mas não têm sorte nenhuma. Ainda se agarram à OPA ou às possíveis contratações, mas só levam com chapadas de classe: é o trabalho da Fundação, são os ventiladores, o apoio a idosos em situações de risco, as máscaras e as luvas, o capitão de voleibol Hugo Gaspar a dar lições de profissionalismo e solidariedade, as redes sociais em favor de uma causa... eu sei lá."
Ricardo Santos, in O Benfica
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