"Espectáculo, instrumento político, meio de educação, factor económico… o desporto é tudo isto. Ele tornou-se polissémico. A sua compreensão é tanto mais difícil quanto o pensamento dominante, neste mundo globalizado. Quais são os pontos comuns entre o desporto-espectáculo e o desporto-lazer? O desporto de elite tornou-se o mesmo que o desporto para todos? As federações desportivas estão ao nível dos objectivos proclamados? Como é que o desporto pode participar na coesão social? Várias questões que estão por responder. Uma táctica de evitação é geralmente adoptada, provavelmente por medo de se ver o “edifício” com fissuras.
A definição de desporto, como sistema de práticas e regras, ignora as numerosas interpretações que circulam nas sociedades. Uns, veem nele uma visão simbólica do mundo, das grandezas e fraquezas, das suas realidades e das suas representações; outros, não hesitam em fazer do desporto uma religião, em que cada um tem de se submeter, sob pena de ser excluído por blasfémia. Manifestamente, tudo isto não nos leva a uma compreensão satisfatória do desporto. As imagens que o desporto-espectáculo nos dá também não ajudam. Esta desilusão é ainda maior quando somos confrontados com o discurso encantatório de alguns dirigentes (políticos, desportivos) sobre o desporto, referindo que ele é portador de muitos valores (disciplina, camaradagem, lealdade, responsabilidade, etc.).
O desporto não é uma acção mágica, que age por si mesmo. Exige aprendizagem, instrução e educação. É quando estas condições estão presentes que o desporto pode servir para transmitir valores que são úteis para o desenvolvimento das sociedades. Na realidade, o desporto sucumbe muitas vezes a uma moda simplificadora, capturando os “espíritos”. O desporto não é melhor nem pior do que outras actividades humanas. É na condição social que encontra a sua utilidade. Nesta prática singular e universal há um longo caminho a percorrer e a explorar."
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