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terça-feira, 17 de março de 2020

O Bando dos Quatro | O salto para a equipa A encarnada

"Com um espetro de incerteza a pairar sobre a actual temporada, a próxima começa já a surgir no horizonte. Tendo precisamente a temporada 2020/2021 na mira, listo neste artigo os quatro produtos da formação do SL Benfica que julgo merecerem uma franca e cabal oportunidade na equipa A encarnada.
Jogadores como Svilar, Nuno Tavares e David Tavares não entram na selecção por serem já habituais convocados (ainda que não joguem). Também não entram na lista jogadores emprestados que possam vir a integrar o plantel, como Diogo Gonçalves – daria toda uma outra lista.
Assim, os quatro futebolistas presentes actuam nas equipas secundárias do clube na presente temporada e são os que me parecem estar num nível de qualidade/maturidade o mais próximo possível do desejável.
Outros jogadores terão, certamente, oportunidades futuras, mas, de momento, necessitam de crescer num contexto menos exigente. Luís Lopes deverá ser o ponta-de-lança de eleição da equipa B em 20/21, Morato e Pedro Álvaro deverão consolidar-se nessa mesma equipa, Rafael Brito deverá “ganhar calo” também nos Bês, entre outros excelentes projectos de jogador.
Posto isto, a lista é como segue e na ordem em que se apresenta.
1. Tiago DantasO que possa ser proferido sobre Tiago Dantas será sempre, em quantidade e em qualidade, curto para expressar o que este futuro senhor jogador expressa em campo. Ver o futebol de Tiago Dantas no seu estado máximo de pureza influi-nos uma corrente enorme de emoções variadas: alegria, espanto, admiração e até nostalgia. Para os adeptos do futebol “antigo”, para os profetas do “´Dantas` é que era bom”, o médio benfiquista é um oásis no deserto.
Reitero que tudo o que possa ser dito sobre o jovem de 18 anos e 1,69m é pouco, e que reduzir o seu futebol a uma palavra é minimalista. Ainda assim, há uma que, ainda que insuficiente, lhe assenta que nem uma chuteira: classe. O alfacinha conjuga uma extraordinária qualidade técnica, uma incomum visão de jogo, uma leitura em campo acima da média, uma cultura táctica crescente e uma capacidade de liderança que faz dele capitão da equipa de juniores na Youth League – onde tem andado a espalhar magia.
É um “10” à moda antiga. No entanto, ciente de que a moda é mesmo antiga, Dantas tem vindo a ganhar consistência nas restantes posições do meio-campo adiantado. Na próxima época, gostava de vê-lo disputar com Pedrinho a posição de apoio ao ponta-de-lança, relegando Chiquinho para a luta pela ala direita. Confluir na mesma equipa um fantasioso como Pedrinho e um maestro como Tiago Dantas, seria um sério aviso a toda a navegação e traria memórias de tempos em que o futebol era mais… Puro.
2. Gonçalo Ramos Com apenas 18 anos, Gonçalo Ramos já passou por uma evolução notável. Começou por pisar terrenos mais recuados, foi crescendo como homem de referência na frente e tem agora regredindo no campo, ocupando ora a posição de “8”, ora a de “10”, ora a de “9,5”, ora a de “9”, por vezes no mesmo jogo. A sua posição tem vindo a oscilar, mas a sua qualidade não.
De há uns anos para cá, fruto da experiência que tem adquirido ao alinhar em várias posições, em vários escalões (e nas selecções jovens), tem demonstrado um nível exibicional extraordinário. Do meio-campo para a frente, mostra conhecer tudo o que há para conhecer. Interpreta muitíssimo bem todas as funções dos homens mais adiantados e desempenha qualquer papel, nos últimos dois terços do campo, com categoria, classe e inteligência.
Este último é, para mim, o mais importante vocábulo do futebol actual. Não basta ter futebol nos pés, é vital tê-lo na cabeça. A formação do Benfica Futebol Campus tem prezado por aí. Tem criado futebolistas inteligentes. Gonçalo Ramos é um desses casos, não sendo de estranhar o algarvio ser aposta recorrente de Renato Paiva na equipa B. Pese embora a tenra idade, está pronto para dar o salto.
3. Ilija VukoticCom a chegada de Weigl e a permanência de Florentino e Samaris, aparentavam ser muitas as soluções para o meio-campo benfiquista. A verdade é que a lesão de Gabriel e as últimas partidas e exibições vieram provar que é até curto para o nível de exigência do clube da Luz. Já se diz que um dos cinco reforços desejados pelas águias para a temporada vindoura é um médio. Pode ser esta a oportunidade ideal para Ilija Vukotic.
O médio montenegrino, de 21 anos, está no ponto. Apresenta uma maturidade anormal para um futebolista que só esta época começou a ser aposta regular na equipa B, sem ter medo algum de assumir: assume as bolas paradas (livres, cantos, grandes penalidades, o que for), assume o jogo, assume a construção, assume a desconstrução. Tudo com uma naturalidade e uma tranquilidade quase assustadoras. Se passa alguma emoção por aquele homem durante a partida, ele esconde-a muito bem.
Além do maravilhoso pé esquerdo que possui, com o qual coloca o esférico onde bem lhe apetece, ostenta uma envergadura física impressionante para um futebolista tão tecnicista – 1,91m e 78 Kg. Nas três épocas de águia ao peito, apontou quatro golos, um número que pode melhorar nos próximos anos, dada a crescente qualidade que apresenta nos seus remates de meia distância, nos livres directos que bate e na chegada à área.
4. Branimir KalaicaO central croata de 21 anos chegou a ter oportunidades – escassas – sob o comando de Rui Vitória, mas ainda não lhe foi oferecida nenhuma por parte de Bruno Lage. O treinador terá as suas razões, mas a não aposta num defesa-central maduro, com qualidade, com golo, com capacidade de liderança, com capacidade de construção numa fase em que as opções para a posição escasseiam no plantel principal, é bastante surpreendente.
Neste momento, Kalaica estará já a amargurar na equipa B encarnada. A Segunda Liga não é já o contexto competitivo ideal para a continuação do crescimento do jovem jogador. Mais do que merecer, o croata precisa de dar o salto definitivo para a equipa A. Não será nos Bês que o central crescerá mais técnica, táctica ou emocionalmente.
Apesar de alinhar, habitualmente, pela direita do eixo da defesa na segunda equipa, acredito que Kalaica seria capaz de gladiar pelo lugar de Ferro, com o português e sair vencedor dessa batalha. A cruel verdade é que essa batalha não se afigura provável, visto que Bruno Lage parece ter estabelecido que, na hierarquia de centrais da formação, Morato surge na dianteira, ainda que não tenha a maturidade competitiva do croata."

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