"Agora a bitola nos clubes mais poderosos são os 222 milhões de Neymar (quase duas vezes o que custou o Estádio do Benfica!)
À volta da Selecção
Acabou, finalmente, a descarada (ou será escancarada?) janela (ou será portão?) de transferência. Coincidiu no tempo, aliás, com o entusiasmante jogo da Selecção Nacional contra uns rapazes que trabalham 12 horas por dia e ainda ajudam em casa, vindos dos confins das ilhas dinamarqueses de Feroé. Jogo tão excitante e fundamental que até o actual (candidato) presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, faltou a um debate televisivo com os restantes candidatos, porque à mesma hora se jogava no Bessa tão complicada partida. Percebe-se o conflito de agendas.
No desafio propriamente dito, Ronaldo jogou com o sempre notável profissionalismo e William Carvalho revelou forte personalidade perante a frustração de não ir para a terra de Sua Majestade devido à intransigência do seu clube face à proposta recebida (uns a dizer que sim, outra a dizer que não) de um clube inglês (West Ham) que, em tradução literal, quer dizer 'presunto ocidental'. Como habitualmente, lá jogou, ainda que a suplente, esse mago do futebol chamado André Gomes e, hélas, regressou, logo num jogo tão áspero, essa pedra precisa (sempre por polir) Nélson Oliveira.
No jogo com a Hungria - este sim com algum grau de dificuldade - Portugal cumpriu, sem brilho, mas com consistência. O cotovelinho magiar foi decisivo e Pepe, desta vez vítima, que o diga. Agora falta vencer a Suíça que lá continua 100% vitoriosa e com o benfiquista Seferovic de pé quente. Ele que guarde os golos futuros para o SLB e os dispense na selecção helvética. Antes, ainda há Andorra que faz tremer os responsáveis por causa da viagem pelos Pirenéus (contratem Froome!).
A propósito da Hungria, lembro-me, criança e jovem, da escola fabulosa de jogadores desde Puskas a Kocsis, de Kubala a Czibor, entretanto espanholizados depois da tentativa húngara de, em 1956, se libertar do jugo soviético. Ainda durante algum tempo, as equipas húngaras foram temíveis, até que tudo se esfumou e hoje não passam de clubes de pequena expressão. Falo, sobretudo, do Úpjest, MTK, Hónved, Ferencváros e Vasas de Budapeste. E, falando da nação magiar, não posse deixar de recordar o menino de Gyõr que sucumbiu em Guimarães com a camisola encarnada, Miklós Fehér.
André Almeida
A propósito da equipa principal de Portugal, André Almeida já não é seleccionado desde 2015. Aliás, muito pouco foi (apenas 8 internacionalizações de minutos). Não tem tido a atenção generosa de seleccionadores como acontece com o seu homónimo André Gomes (sim, porque André Almeida é, de nome completo, André Gomes Magalhães de Almeida...). No Benfica e depois dos fiascos aparentes ou promessas adiadas de Pedro Pereira e de Aurélio Buta, André Almeida, prestes a completar 27 anos, tem sido o titular na posição de defesa-direito do Benfica. Ainda houve, para aí, um tal Mato Milos que veio lá da Croácia para ir ao Bairro Alto jantar e ser reenviado para Gdansk (linda e icónica cidade polaca, por sinal). Por fim, chega ao plantel encarnado Douglas, directamente de Barcelona. Pode vir a ser uma boa opção, sem dúvida. Mas, retomando o fio à meada, André Almeida é o tipo de jogador que tem no seu principal activo (polivalência, profissionalismo, seriedade, sobriedade, constância exibicional) o seu principal... passivo. Às vezes, ponho-me a pensar neste tipo de jogadores. Servem para tapar buracos numa série de posições no campo, e são, por isso, imprescindíveis ao longo de uma temporada, mas essa sua característica enfraquece o seu foco e progressão numa só posição. Neste caso, muitos adeptos encarnados continuam a suspirar por Nélson Semedo, de algum modo sendo injustos para com o André que tem feito bons jogos e evoluído muito na função atacante. Estamos num tempo em que o que se quer são laterais que ataquem muito, ainda que defendem mal. Pois eu não penso assim. Julgo preferível um adequado equilíbrio entre a função defensiva e atacante, ainda que menos empolgante aos nossos olhos de bancada. Em suma, Douglas terá de justificar completamente por que razão André Almeida poderá voltar ao banco de suplentes. Caso contrário, estamos bem servidos com o português.
Ainda as transferências
Um alívio, ainda que só por 4 meses. Pelo menos, já não corro o risco de abrir a televisão e dar com uma qualquer notícia ou especulação de transumância futebolística, com música de fundo (gostava que me explicassem qual a razão consistente de uma música que, na TVI24, acompanha as palavras dos comentadores). Deixo para outra altura, o mistério da transferência para a Lazio de Roma de dois ignotos jogadores minhotos (rima e é verdade) por cerca de 25 milhões de euros, o equivalente a 1/5 do custo de Estádio da Luz e a quase 1/3 do Municipal de Braga! Mistérios insondáveis, tal como foi o da transferência de um tal Bebé de Guimarães para o Man. United, depois de escolhido pelo olho de Ferguson, sem que este se tenha submetido, posteriormente, a qualquer intervenção oftalmológica.
O chamado mercado está louco. Ou melhor, não está louco. Está-o para nós, simples mortais. Mas não o está para toda a panóplia de intervenientes e de eficientes e potentes lavandarias. Agora a bitola nos clubes mais poderosos são os 222 milhões de Neymar (quase duas vezes o que custou o Estádio do Benfica!). E a mais recente por empréstimo um jogador (fazendo de remediado ou pediante) e pagar um ano depois o preço, como aconteceu há dias com a transferência pela módica quantia de 180 milhões de um miúdo de 18 anos, Mbappé, do Mónaco para o PSG. Isto tudo para escapar ao fair play financeiro da UEFA. Esta teve uma ténue reacção a esta manobra formal que foi a de evitar a substância do problema por via de um expediente pouco fair play. Uma maravilha. Podre, é certo, mas fácil e que dá milhões.
Por cá, o Benfica foi o que mais recebeu. O Porto o que menos contratou. O Sporting o que mais gastou. Quanto ao Benfica, que é o que verdadeiramente mais me interessa, o saldo financeiro é excelente. A saída de Mitroglou e a consequente entrada, por empréstimo, de Gabriel Barbosa (deixemos o sufixado 'gol' para ele justificar em campo a venda do 'glou') é um risco interessante e promissor, até porque pode fazer vários lugares. O jovem guardião belga Mile Svilar terá sido uma boa aquisição ainda que para futuro. Douglas já falei atrás. Apensa fico algo preocupado com a zona dos defesas-centrais. Não me parece que, em caso de necessidade, Rúben Dias e Kalaica possam ser clones de Lindelof. Não há milagres por osmose estatística. Mas, oxalá me engane. Tenho pena que André Horta tenha sido emprestado e fico satisfeito com a permanência de Samaris (também pode ser defesa-central) e Raúl Jiménez.
Contraluz
- Número: 67
Foi o número de dias de castigo aplicado a Luís Filipe Vieira por ter dito, em Alvalade, que «já tivemos dentro da nossa casa, um mentiroso compulsivo e um demagogo e soubemos recuperar o Benfica e trazê-lo para onde está hoje. Hoje, quando recebi a carta do Sporting, recordei-me desses tempos, de gente populista e mentirosa compulsiva». Será que o futebol é a única área que, em Portugal, está sujeita censoriamente a delito de opinião? E neste caso qual foi, afinal, o delito? Depois do 'caso Eliseu', cheira-me a uma no cravo e outra na ferradura. É a lei das compensações, sempre tão nossa...
- Palavra:
Nem queixumes, nem queijinho. Antes queixinhas, ou seja, a maxila dos vertebrados depois de ficarem de queixa caído (às vezes, por causa de queixas a mais).
- Negócios: da China.
Que abstrusa ideia de um Campeonato do Mundo de hóquei em patins na China! Só se for para dar mais cabo da modalidade ou para a nachinalizar talvez passando a chamar-se «ó ki yin pin».
- Frase:
«Vários estudos demonstram que o desempenho dos atletas decresce 3 a 5% depois de fazerem uma tatuagem. A pele é o nosso maior órgão e, mesmo assim, envenenam-no»
(Igor Frobose, clínico alemão in A Bola, de 31 de Agosto)"
Bagão Félix, in A Bola
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