"O futebol não é mágico porque é contraditório, imprevisível, incongruente mesmo. Quantas vezes um golo marcado ou sofrido me fez virar a opinião, de tal modo que, nessas ocasiões, me vejo cruelmente confrontado com a racionalidade e (in)coerência.
É assim comigo e, é assim com muita gente. No jornalismo desportivo, é quase uma regra. O título, a crónica, são função do resultado e basta o tal golo nos instantes finais para muito mudar na comunicação, não direi 180 graus, mas, não raro, perto disso.
Um eloquente exemplo desta época foi a erradicação da ideia de Leonardo Jardim como bom treinador, mas muito cauteloso e defensivo. Esta temporada notável no Mónaco, o madeirense sensato e inteligente deu-nos a volta. Os monegascos foram uma máquina de fazer golos (107 no campeonato), só superados pelo habitual Barcelona (116). Em que ficamos? Treinador dos cautelosos 1-0 ou técnico de ataque?
No plano nacional, o Benfica campeão só foi derrotado pelo 6.º classificado (Marítimo) e pelo 11.º (Vitória de Setúbal), não perdendo nenhum jogo com as equipas até ao 5.º lugar (5 vitórias e 3 empates). Dos 20 pontos perdidos, 9 (45%) foram-no contra sadinos e boavisteiros. E dos 18 golos sofridos, quase um terço (5), foram-no contra os axadrezados. No ano passado, dizia-se o oposto quando se fazia o balanço do trabalho de Vitória: perdia jogos com os grandes que compensava com folha limpa com os mais pequenos. Em que ficamos?
Dois exemplos de como, às vezes, é mais prudente esperar para ver. Ainda que ver sem esperar também faça parte da magia do futebol. À condição (a tal em que o FC Porto foi líder uma série de vezes)."
Bagão Félix, in A Bola
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