"Se Jorge Jesus conseguir ser campeão com um meio-campo entregue aos intermitentes Pablo Aimar e Carlos Martins e recorrendo à miudagem da equipa B, nesse caso é o melhor treinador do mundo
O Mercado de Verão foi penoso para todos os benfiquistas que não são tesoureiros do clube e que são a maioria. E o mercado ainda não fechou, o que é, provavelmente, uma boa notícia para o tesoureiro do clube e pode vir a ser a continuação das más notícias para os adeptos.
O fabuloso Witsel bateu a cláusula dos 40 milhões. Ficámos sem meio-campo porque Javi Garcia também se foi embora por 20 milhões. Que pena, dizem os benfiquistas com toda a legitimidade. Que maravilha, diz o tesoureiro do clube com toda a legitimidade.
Witsel passou pelo Benfica como um meteoro e deixou-nos um rasto de luz e de poeira de estrelas que, dificilmente, servirá de consolação.
Javi foi um daqueles jogadores (raros) que muitos benfiquistas, tenho a certeza, sempre imaginaram que poderia ficar no clube por uma década, acabando a carreira na Luz com a braçadeira de capitão.
Javi, à despedida, disse que haveria de voltar um dia. Talvez, quem sabe? Mas já não vai ser a mesma coisa.
Saviola também se foi embora. Ao contrário de Javi Garcia e de Witsel, dois jogadores fulcrais, o pequeno argentino não vinha prestando qualquer tipo de contributo prático à equipa desde o tempo em que o Benfica foi campeão.
Há coisa de semanas, ficou-se a saber que o Benfica propôs ao Málaga um negócio que envolveria a troca de Saviola por Eliseu. Passados uns dias ficou-se a saber que Eliseu até poderia seguir caminho para o Benfica mas só depois de o Malága se desembaraçar do play-off de acesso à Liga dos Campeões em que se viu envolvido. O Málaga qualificou-se para a fase de grupos da Liga dos Campeões, Eliseu ficou no Málaga e Saviola para lá foi.
Saviola era, portanto, um expendable no Benfica. Os seus serviços não eram indispensáveis e o argentino poderia receber guia de marcha assim que proporcionasse um bom (ou médio) negócio à casa. É a vida, dirão os economicistas.
De Saviola os benfiquistas guardarão durante muitos anos o se inestimável contributo no último título conquistado, em 2009/2010, assinando com Cardozo uma parceria poderosa que rendeu dezenas de golos. Seguiu-se, sem pré-aviso, um ocaso literal de duas temporadas que não entra na cabeça de ninguém. De um momento para o outro viu-se desfeita a dupla mais concretizadora dos últimos tempos no Benfica. Má sina, é o que parece.
Já há coisa de uma década também foi desfeita num ápice, por razões políticas, outra parceria de sucesso no ataque do Benfica, Pierre Van Hooijdonk e João Tomás, lembram-se?
Eram goleadores qualificados com reportórios diferentes dos de Cardozo e Saviola, mas ainda assim temíveis para as redes dos adversários. Van Hooijdonk e Tomás foram levados na mesma enxurrada que despejou com José Mourinho para fora da Luz por causa das tais questões políticas cujas consequências se viriam a revelar desportivamente fatais para o Benfica.
O desaparecimento de Saviola nas duas últimas temporadas é um mistério para o grande público já que nem o jogador nem o treinador alguma vez sentiram necessidade de se explicar. Aparentemente, o jogador esteve sempre mais do que conformado com a situação. Não protestou, não criticou e apresentava-se ao treino todos os dias. Era o suplente ideal que não levantava ondas, estranho estatuto para um artista do seu quilate.
Não terá, certamente, desaprendido de jogar à bola. Ainda no último jogo do último campeonato, em Setúbal frente ao Vitória, apesar de ter passado a época quase toda n banco ou em casa, teve de ser ele a entrar em campo a escassos minutos do fim para oferecer a Cardozo o golo com que o paraguaio haveria de conquistar à tangente a sua segunda Bola de Prata ao serviço do Benfica. Do mal, o menos.
Mas em 2011/2012, a parceria Saviola-Cardozo rendeu apenas um honroso troféu individual para o paraguaio? Não.
Em 2011/2012, Saviola renderia também ao Benfica o único troféu colectivo da temporada, a Taça da Liga, lembram-se? Com um teimoso empate a vigorar a dez minutos do fim da decisão com o Gil Vicente, foi o pequeno argentino quem saltou do banco aos 81 minutos para marcar aos 83 minutos o golo da vitória. E, feito isto, lá voltou para o seu silencioso ocaso.
Felicidades em Málaga, é o que todos lhe desejamos.
SALVO as devidas distâncias, este Real Madrid de arranque para 2012/2013 tem duas coisas que fazem lembrar o Benfica. A primeira coisa é de índole política e de comunicação.
Em 2011/2012, depois de um início de campeonato com uma série de arbitragens altamente prejudiciais aos seus interesses, o Benfica ameaçou retaliar desistindo de participar na Taça da Liga.
Felizmente arrepiou caminho e a Taça da Liga, de tão desprezada, acabou por ser o único troféu oficial conquistado nesse ano, o que sempre deu muito jeito para aquela contabilidade muito especial de títulos oficiais em disputa histórica e estatística com o FC Porto. Mas não escaparam os benfiquistas de terem de ouvir os seus adversários não lhes dando tréguas com o facto, indesmentível, de o Benfica só ter conquistado um troféu que nem queria disputar.
Na semana passada, o Real Madrid levou vencida a Supertaça espanhola disputada numa final a duas mãos com o arquirrival Barcelona. Antes do primeiro jogo, desdramatizando o duelo, José Mourinho teve o cuidado de classificar o troféu em causa como «o menos importante» da temporada indo ao ponto de afirmar que «preferia perder» a Supertaça se isso fosse garantia de uma vitória na Liga.
Mourinho jogou com palavras cautelosas, é certo. Mas se lhe acontecer só ganhar este ano a Supercopa espanhola não se virá livre da eterna gozação dos aficionados do Barcelona, relembrando aos de Chamartín a conquista solitária do troféu que preferiam perder.
Fábio Coentrão é a segunda coisa do Real Madrid que faz lembrar o Benfica, por absurdo. Tomás Roncero, o director do jornal madrileno As, acusou Fábio Coentrão de ser «uma má influência» para Cristiano Ronaldo e, de seguida, entreteve-se a desfazer as presuntas qualidades futebolísticas do antigo e saudoso jogador do Benfica.
Percebe-se facilmente que o Fábio Coentrão está para os adeptos do Real Madrid como, no ano passado, estava Emerson para os adeptos do Benfica ou como, um dia destes, mais cedo ou mais tarde - e deseja-se que nunca -, pode vir a estar Melgarejo para os adeptos do Benfica, dando-se o caso de se vir a esgotar o tempo de paciência, afecto e generosidade piedosamente concedido ao jovem e talentoso aprendiz paraguaio.
Quanto à acusação de ser Coentrão uma má influência para Ronaldo, só os espanhóis é que podem acreditar numa patetice dessas. Se o Coentrão fosse uma má influência para o Cristiano Ronaldo, a dona Dolores já tinha tratado desse assunto há muito tempo. Oh, se tinha.
DESDE que Pinto da Costa disse que disse a Falcao que o colombiano «ia dar um passo atrás na carreira», não tem feito outra coisa o avançado do Atlético de Madrid.
No Mónaco, na final da Supertaça europeia com o Chlesea, Falcao até exagerou na vontade de emprestar razão ao presidente do FC Porto. E lá deu mais 3 sonoros passos atrás na carreira. Não foram 1, nem 2, foram 3.
HULK também saiu do FC Porto, excelente notícia para o tesoureiro do clube e má notícia para os adeptos do clube. Certamente que à revelia do presidente, para quem o negócio ou se fazia acima dos 50 milhões ou não se fazia, o tesoureiro do clube comunicou à CMVM que o FC Porto encaixou 40 milhões de euros pelos 85% que detinha sobre o passe do jogador e os restantes 15% que eram posse de empresários e de fundos de investimentos por 20 milhões de euros, a fazer fé nos relatos da imprensa.
Serão, certamente, os 15% mais inflacionados de sempre. Mas cada um sabe de si, não é?
SE Jorge Jesus conseguir ser campeão com um meio campo entregue aos intermitentes Pablo Aimar e Carlos Martins e recorrendo à miudagem da equipa B, arrisca-se a ser considerado o melhor treinador do mundo. Carrega Benfica."
Leonor Pinhão, in A Bola
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