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terça-feira, 7 de maio de 2024

Memória e história


"Os eventos que marcam os anos que passam

Aqui há uns anos tinha estabelecido para mim, e partilhado com alguns companheiros do jornal: quando começarem a chegar aí à redação os miúdos nascidos em 2000 – ano em que acabei o curso – é sinal para me reformar. Na minha cabeça seria como um espelho virado para nós, um sublinhar dos primeiros cabelos brancos e dores nas costas, um sinal para regenerar. Há muito tempo que deixei de perguntar a idade aos que entram, apenas o ano em que nasceram, porque está aí o verdadeiro choque.
Dizem o ano e faz-se em mim silêncio a ligar a data a factos, mão na testa. Primeiro os de 1995, depois os de 1998. Não eram nascidos no ano de 1994 em morreu o Kurt Cobain e cheguei à escola em choque para falar da notícia com as amigas, logo a seguir o Ayrton Senna naquele domingo em que não acabei o almoço, nem nunca mais apontei num caderno os tempos de qualificação e corrida da Fórmula 1, como faria mais tarde a ver horas de etapas da Volta a França, em vez de estudar para exames.
E por fim os de 2000. Eles já chegaram. Para eles o Y2K é história, o 11 de Setembro também mesmo sendo já nascidos. Até do Euro-2004 só têm memórias difusas de bandeiras nacionais às janelas. Sofreram pouco naquele jogo com a Grécia que daqui a nada faz 20 anos, vá lá.
Por acaso ainda cá estou, mas mais calma. Eles andam aí e trazem frescura, novos interesses, ensinam-nos a ver o TikTok e o Reddit. Mas se calhar nunca viram um Rambo, também ele história do cinema. É giro falar sobre o que é história para eles e memória para mim, como esta semana aconteceu com o ‘Vítor do Poste’, um dos cromos do incrível programa Liga dos Últimos, no final dos anos 2000.
A vigência de Pinto da Costa na presidência do FC Porto tem praticamente a minha idade. A sua saída do comando dos dragões vai ser memória comum. Também as conferências de Rúben Amorim, com todos a torcermos para que volte atrás na intenção de passar a ser um chato. Quem sabe o que estarão daqui a uns anos a pensar dos nascidos em 2025 a chegar a uma redação em que serão eles os veteranos…"

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