"Na melhor fase do Benfica no jogo, Puma Rodríguez marcou para o Famalicão e mandou que os festejos começassem em Alvalade. Zaydou fez o segundo para os minhotos e aí a festa do Sporting saiu à rua. Os encarnados estavam impedidos de deslizar sob pena de verem o rival lisboeta ser campeão nacional, mas não conseguiram evitar o desaire (2-0)
Os contratos televisivos multimilionários só podem ser assinados com a certeza de que em frente dos ecrãs estão milhões de pessoas. Ter uma quantidade significativa de gente a ver os seus jogos é algo a que os jogadores se habituam cedo nas carreiras. Aquilo a que podem não estar tão acostumados é a saber que o plantel do rival está sentado numa mesma divisão a torcer por uma escorregadela.
O Benfica, a precisar de um deus para pedir ajuda, que fosse a Cronos, deus do tempo. Só assim se adiariam as contas do título para o mais tarde possível. Tudo o que não fosse vencer o Famalicão dava o título ao Sporting. A melhor forma de combater os nervos que daí podiam advir, muito embora o prejuízo maior tenha sido feito no passado, era marcar cedo.
Em circunstâncias como esta, em que no quadro tático Roger Schmidt deve ter escrito que o Benfica se ia organizar no sistema tático de OR-GU-LHO, obviamente que o lado emocional entrou de mão dada com os jogadores encarnados. Porém, em vez do brio levar a uma abordagem ao jogo repleta de valentia, o clube da Luz decidiu abrir-se com o Famalicão numa conversa sobre fragilidades.
O futebol ping pong à moda minhota demonstrou a incapacidade do Benfica em dominar. O Famalicão, descomprometido em relação à classificação, expôs-se ao risco de levar muitos elementos ao meio-campo contrário e contribuiu para a atividade sísmica que abalou a partida. Cedo apareceram as primeiras ameaças de verdadeiro caos. Di María foi apanhado fora de jogo quando marcou, do mesmo modo que Jhonder Cádiz também não escapou ao escrutínio da equipa de arbitragem.
O Famalicão de Armando Evangelista, além de inclinado para o ataque, alargava muito a circulação, em especial com variações para a direita, onde Martín Aguirregabiria se projetava para testar as capacidades defensivas do compatriota Álvaro Carreras. Foi por ali que Puma Rodríguez também descolou rumo a um remate que bateu no poste.
Com as duas equipas em 4x2x3x1, os famalicences interpretaram o sistema de forma mais atrevida com Zaydou a ter liberdade para ocupar espaços que, no Benfica, João Neves e João Mário, não conseguiram replicar. Com os encarnados a optarem por um certo exagero posicional que nem Neres ou Di María estavam a conseguiu quebrar, o Famalicão continuou a ser perigoso. Desta vez, foi Cádiz a aparecer numa posição boa o suficiente para não atirar tão por cima como acabou por acontecer.
Quando se espremeu o rendimento ofensivo do Benfica, o sumo recolhido foi um cabeceamento de Marcos Leonardo, titular depois do bis contra o SC Braga, que o guarda-redes do Famalicão, Luiz Júnior, defendeu junto à relva. Soube a pouco.
Roger Schmidt tentou agitar as águas e ninguém melhor do que Rafa para o fazer. Ao intervalo, o alemão abdicou de ter Kökcü como terceiro médio para colocar o camisola 27 nas costas do avançado que, na segunda parte, foi Arthur Cabral. Foram trocas acertadas. Com as movimentações sem bola, Rafa e Arthur Cabral forçaram a linha defensiva do Famalicão a recuar, criando espaço para que Di María passasse a decidir de frente para a baliza contrária.
As novas dinâmicas do Benfica levaram Rafa a aparecer na cara de Luiz Júnior que, por coincidência, se vestiu de verde, e nesses preparos travou o desvio subtil. Pouco depois, Di María atirou ao poste. As mudanças dos encarnados contrastaram com a insistência do Famalicão na mesma estratégia.
Os comandados de Armando Evangelista voltaram a expor Álvaro Carreras e nem a tentativa de dobra de Otamendi conseguiu evitar que Puma Rodríguez voltasse a fazer nova diagonal. Acontece que, na ocasião, o internacional pelo Panamá corrigiu a direção do remate, dando instruções à bola para aterrar na baliza de Trubin. Depois, foi Zaydou que se soltou até ao ataque e fez o 2-0 perante o ucraniano.
Por muito que tenha sido com uma dose cavalar de esforço dentro do campo que o Sporting se sagrou campeão, foi do sofá que viu confirmar-se a derrota do Benfica e começou a festejar o 20.º título de campeão nacional. Famalicão acabaria por ser o local onde os leões foram buscar a vitória, na jornada 20 que cavou um fosso irrecuperável para o segundo lugar, e foi no Minho que os encarnados enterraram a luta."
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