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sábado, 20 de abril de 2024

O alter ego de Schmidt foi demasiado parecido com o verdadeiro Roger para o Benfica ser feliz em Marselha


"Contrariando a ideia de jogo que levou o Benfica ao sucesso na temporada passada, Roger Schmidt foi a França defender a vantagem que trazia da primeira mão dos quartos de final da Liga Europa. Os encarnados acabaram por ver o Marselha igualar a eliminatória por Moumbagna (1-0). Tudo se decidiu nas grandes penalidades (4-2), onde Di María e António Silva falharam

É privilégio de treinador que as linhas orientadoras das suas opções técnico-táticas sejam passíveis de serem redefinidas por quem inicialmente as estabeleceu. Nesse aspeto, ninguém está obrigado a cumprir regras que não queira para satisfazer uma voz interior. Em Marselha, Roger Schmidt, que tão criticado é por nada mudar, tentou algo diferente. Porém, o seu novo alter ego ainda não é maduro o suficiente para deixar de lado erros de petiz.
As primeiras notícias do aparecimento da nova versão do alemão foram impressas no duelo do campeonato, contra o Moreirense. Revendo a química demasiado forte com a teimosia, o alemão revolucionou o onze inicial diante dos cónegos, algo que só os arquivos se devem recordar de ter acontecido anteriormente. Os encarnados estavam a dar o pontapé de saída na segunda mão dos quartos de final da Liga Europa ainda em Portugal e num jogo do praticamente fenecido campeonato. O passo seguinte do desenvolvimento deste Schmdit 2.0 ficou guardado para território francês.
Aquele Benfica que só em pontuais situações se sujeitava a que o jogo não decorresse no seu meio-campo ofensivo tem um espaço reservado no Museu Nacional de Arte Antiga. Esta nova versão cansou-se da corrente impressionista e teve que aprender a viver da realidade. A vantagem de 2-1 que os encarnados levavam para o Vélodrome, casa do 9.º classificado da Ligue 1, era olhada como uma obra concluída.
É arriscado dizer que houve inspiração no Real Madrid que eliminou o Manchester City na Liga dos Campeões. A proximidade entre os dois jogos torna difícil acreditar que Schmidt tenha plagiado o homólogo merengue na postura defensiva com que enfrentou o Marselha. Vamos então acreditar em coincidências. No entanto, o desfecho não foi o mesmo. O Benfica estacionou-se, mas ocupou um lugar que não era seu e pagou multa por isso, acabando eliminado e falhando o regresso à meia-final da Liga Europa.
Roger Schmidt, que num jogo de 120 minutos mais grandes penalidades deixou três substituições por fazer, acertou em cheio no precipício ao retirar, aos 60, David Neres, até então o jogador mais capcioso em campo.
Aquele bloco baixo até esteve sólido grande parte do tempo. Casper Tengstedt e Rafa condicionavam a primeira fase de construção do Marselha. Não foi tarefa fácil. A superioridade criada por Pau López (sim, o guarda-redes), impedia eficácia nas ambiciosas tentativas de recuperar.
João Neves e Florentino tinham que se aguentar numa ocupação zonal dos espaços. Não dava para ser de outra forma. A equipa treinada por Jean-Louis Gasset despejava no miolo gente em número superior que impedia uma perseguição individual. Kondogbia e Veretout que jogassem de frente para a baliza de Trubin. Ounahi é que era um caso mais complicado de resolver sempre que o fazia.
David Neres destacou-se mais a assistir do que a finalizar, como sugeria a colocação no lado esquerdo. Rafa, de trivela, e Aursnes, num remate picado à malha lateral, foram os principais beneficiados pela clarividência do brasileiro em lances praticamente separados por uma hora, sinal do baixo fluxo ofensivo encarnado. Menos agradado com a prestação do extremo estava Schmidt que deu prioridade à saída de Neres do campo antes de fazer qualquer outra substituição. Alheio à troca não é o facto do Marselha ter reforçado o lado direito com a entrada de Murillo para o lugar de Mbemba.
Não se tratava de um cenário conveniente para o Benfica que o jogo se partisse. No rácio entre lucros e perdas, os encarnados foram iludidos com a dupla possibilidade que Rafa e Di María tiveram no mesmo lance para marcarem. As águias começaram a esticar a corda e as inseguranças de Trubin ficaram expostas. A possibilidade do Benfica fechar a eliminatória nos 90 minutos escapou não pelas mãos, mas por entre as pernas do ucraniano. Moumbagna fez o 1-0 a dez minutos do final do tempo regulamentar e forçou o prolongamento.
O treinador do Benfica tinha realizado apenas duas substituições – entraram João Mário e Orkun Kökçü, passando Rafa a ser o jogador mais adiantado – o que dava margem para que pernas frescas pudessem refrescar um encontro fervoroso. Di María ia sendo protegido pelo escudo de um polícia de serviço no Vélodrome dos objetos que lhe eram atirados a partir da bancada sempre que dela se aproximava para bater um campo. A maneira mais fácil que tinha de evitar ser alvo dos arremessos era concluir de maneira mais convicta as oportunidades que ia tendo.
O jogo tornou-se uma maratona e, nas maratonas, a tática é pouca e a resistência quer-se em abundância. Nesse aspeto, o Benfica aguentou-se. Arthur Cabral, que entrou já para lá do minuto 100, pediu a Pau López que o deixasse ser herói. O espanhol disse-lhe que não e assumiu ele esse papel. Nas grandes penalidades, já depois de Di María ter falhado, o guarda-redes travou o remate de António Silva, dando a Luis Henrique a oportunidade de fechar a eliminatória (4-2, após grandes penalidades) e deixar o Benfica sem objetivos na temporada."

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