"Se as atrocidades, a violência, a injustiça, a humilhação e o sofrimento infligidos em nome de diferenças raciais não fossem por si só causas mais que suficientes para abominar o racismo, não faltariam evidências da sua absurda falta de lógica e contradição com a própria existência humana. Vejamos apenas algumas.
A seleção natural: aceitamos genericamente que as espécies evoluem de acordo com a sua capacidade adaptativa, reproduzindo-se sempre mais os indivíduos cujas características e mutações genéticas lhes dão vantagens competitivas. Isso explica muitas das diferenças ditas 'raciais' entre seres humanos de distintas geográficas e climas.
A evidência histórica: como é que queremos cumprir com a nossa histórica, riquíssima e universal, e pensar ao mesmo tempo que somos todos descendentes diretos de um pequeno condado como se a população original nunca tivesse saído do mesmo lugar?
A globalização: num mundo cada vez mais global, em que os portugueses foram pioneiros na visão e na miscigenação, não haveria desenvolvimento de nenhuma ordem se subitamente parassem as migrações e cada um retornasse para sempre ao seu lugar de origem. E como decidiria cada um de nós qual é na realidade esse lugar?
A diversidade cultural: quanto mais capaz de entender e comunicar com diferentes latitudes, mais competitiva se torna uma sociedade e mais capaz de antecipar e resolver conflitos.
O sentido de humanidade: acreditamos, de diferentes formas pelo mundo, na espiritualidade e um sentido superior para a existência humana. Em nome de quê nos segregamos por diferenças biológica e sobretudo espiritualmente irrelevantes?
O sucesso desportivo: certamente nenhum benfiquista, ou, melhor, nenhum português, imaginaria perder o eterno King Eusébio que tanto fez brilhar Portugal pelo mundo em tempos da mais desoladora obscuridade.
O racismo é uma patologia social e não uma afirmação de virtudes, é brutal, cego e empobrecedor. Portugal, que é humanista, sabe-o bem, e o Benfica, que extravasa fronteiras e junta sorrisos de todas as cores, é disso prova viva e exemplo. Por isso, desde 1904 que passa um vibrante cartão vermelho ao racismo!"
Jorge Miranda, in O Benfica
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