"No universo profissional como na esfera social/pessoal, há separações que são, sobretudo, demandas de novos caminhos e oportunidades. De vida, de carreira, de gestão, sem amarguras nem terceiras leituras. Soluções limpas e racionais, por exemplo, como aquela que, conciliando interesses desportivos e financeiros, recentemente encerrou a ligação de Pedrinho ao Sport Lisboa e Benfica, redundando o episódio na transferência do jogador para o Shakhtar. Mas depois, para muitos, tem de haver o ónus, esse malandro de unhas laminadas que se entretém a arranhar-nos a pele.
Até há meia dúzia de meses, o esquerdino merecia da Crítica o rótulo de flop, de aposta falhada na Luz. Mudou-se para a equipa de Donetsk, marcou um golo ao minuto 19 do Mónaco - Shakhtar, no playoff da Liga dos Campeões, num lance pincelado com algumas das suas valias técnicas, e os comentários sucedâneos conduziram-no às estrelas, num foguetão movido a elogios inauditos. Simultaneamente, na apreciação, o Benfica, era colocado em xeque. O 'ónus', claro. Nova camisola, diferentes impressões ou apreciações. Mistérios, ou talvez não.
O futebol, onde a felicidade nas escolhas e nas performances nem sempre é exata como a matemática tem destes 'encantos'. Podíamos recordar Gabriel Barbosa, que em 2017/18 marcou um golo e alinhou apenas em cinco jogos de águia ao peito. Regressado ao Brasil (cedido num primeiro momento, pelo Inter, onde também não se afirmou), voltou a ser Gabigol, com mais de uma centena de golos com as cores do Santos e do Flamengo, até à data. Outro 'ónus' que esvoaçou no éter.
Chegado a este ponto, abraço Jonas e também Salvio, exemplos, entre muitos outros elegíveis de como as circunstâncias, os contextos e as novas rotas alteram, transformam e/ou robustecem currículos. Em diferentes momentos, ambos saíram de Espanha e atravessaram a fronteira para escreverem obras completas no Benfica e serem campeões com histórias, como os conhecemos. 'Ónus', aqui, lá está, só aquele que coube em bónus."
João Sanches, in O Benfica
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