"1. A edição que o leitor tem nas mãos (ou no seu ecrã) celebra o 78.º aniversário do órgão de informação que, em publicação praticamente continua desde 28 de Novembro de 1942*, o Sport Lisboa e Benfica se orgulha de preservar como um ícone da Imprensa desportiva em Portugal e na Europa, absolutamente singular pelo seu espírito e pela natureza dos seus conteúdos.
2. O tempo traz e leva todas as águas que vão passando sob as pontes, mas, de facto, este foi um ano muito difícil para o país e o mundo. E, procurando o nosso Jornal ser um espelho do Benfica, da mesma forma que o próprio Glorioso reflecte Portugal, ao longo deste período o leitor veio naturalmente encontrado no conjunto destas páginas esses sinais de surpresa e perplexidade, de aflição e esperança que nos têm tocado a todos e, de modo tão especial, aos nossos heróis nos campos, nas quadras, nas piscinas, nos tapetes e nas pistas, que tanto estranharam a nossa falta à sua volta.
3. A rara imagem, agora desesperadamente tornada constante, de estádios e pavilhões assim despidos e mudos, tal como a ausência da partilha das emoções de jogo ao vivo com a nossa família e os nossos amigos a que nos vemos constrangidos sem remissão, constitui a mais triste síntese da deslocação e da estranheza em que hoje se disputa a competição.
4. Um jornalista, todos os nossos jornalistas - como todos os restantes colaboradores -, sendo jovens, estão a viver este período em circunstâncias inteiramente inéditas para eles, como para nós, os mais velhos, que também jamais tínhamos experimentado conjuntura tão estranha para cumprir a missão que o Sport Lisboa e Benfica nos definiu.
5. Mas nada, absolutamente nada, alguma vez deixou alterar o mesmo espírito com que, em cada semana, sempre se inscreve cada linha e cada espaço, nas páginas de que se compõe o corpo de edição deste órgão de informação.
6. Essa essência do jornalismo permanece aqui. Há setenta e oito anos cumpridos, neste mesmo Jornal que o director fundador José de Magalhães Godinho e o editor Júlio Ribeiro da Costa sonharam e semanalmente preparavam na Redacção da mítica 'Secretaria'' na Rua Jardim do Regedor, para (curiosamente) ser impresso no n.º 1 1-C da velha Rua da Luta, à Vítor Cordon (actual R. dos Duques de Bragança), na Tipografia da revista 'Renascença'.
7. A verdade e o rigor dos registos sempre se mantiveram como património herdado e cumprido conforme o espírito e a letra do nosso Estatuto Editorial e as imutáveis regras da deontologia e da ética. Essa constitui a matéria de melhor honrarmos o Sport Lisboa e Benfica, na qual os adjectivos se dispensam para se privilegiarem os factos e os protagonistas, de modo a que a celebração das vitórias, como a tristeza das derrotas, sempre fosse genuinamente entregue à sabedoria dos leitores.
8. Perante o nosso desígnio e com esta determinação - não esquecendo ter sido este o ano especial em que pudemos dar testemunho das mais concorridas Eleições de sempre no Clube e em qualquer instituto associativo em Portugal - para nós nunca haverá anos 'bons', nem anos 'maus'. Mas a verdade é que 'este' nosso tão exógeno septuagésimo oitavo ficará para sempre, e pelo menos, como 'aquele' que, de facto, nunca tínhamos vivido..."
José Nuno Martins, in O Benfica
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