"Se há altura do ano, em que todos, sem excepção, procuram o melhor de si próprios e o comunicam a quem os rodeia, essa altura é sem dúvida o Natal. Sobretudo no mundo em que vivemos, que é cada vez mais potenciado pela comunicação e pela sociedade de consumo e em que a dádiva familiar e vicinal é alimentada por uma verdadeira indústria global. Esta realidade convoca-nos à reflexão e exige de nós uma reafirmação permanente de valores como a solidariedade e a justiça, sendo certo que estas não chegam de igual modo a todos os seres humanos como deveria ser. Isto é verdade em todo o ciclo de vida, mas acentua-se nos períodos de maior dependência e fragilidade individual, a velhice e, sobretudo, a infância que a vida a nega tantas vezes a tanta gente. O Natal espectacular de festa, luzes a abundância. Aquele Natal que enche os lares de alegria e conciliação familiar torna-se agridoce para quem vive nas margens da normalidade, em exclusão ou grandes fragilidades social. Por mais que se dê, faltará sempre algo valioso e insubstituível. A isso ninguém pode obviar, mas tudo o que fizermos, todos, será pouco para afastar a violência avassaladora de um vazio natalício sobre uma criança, por exemplo.
Por isso, as iniciativas sociais de Natal são todas muito importantes, mesmo que sejam modestas e incógnitas, porque levam consigo a maior das curas para os males de espírito: calor humano. Mas, claro, se um clube de futebol solta os seus heróis inatingíveis pelo mundo e os jogadores começam a entrar por enfermarias, lares e residências, então os sentidos exacerbam-se e o valor socialmente percepcionado é enorme. Não só porque toca profundamente aqueles a quem a sorte bafejou directamente com a dádiva e a visita, mas sobretudo porque se torna inspirador e provoca reacções em cadeia para que, noutros lugares remotos da nossa sociedade, outros protagonistas façam o mesmo e o espírito natalício toque a todos sem nenhum exclusão.
É assim que o futebol social entra no Natal pela porta grande, e é assim, também, que o Benfica leva aluz pelos cantos mais obscuros e necessitados e que aviva, com a chama imensa, o vermelho do Natal!"
Jorge Miranda, in O Benfica
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