Últimas indefectivações

sábado, 27 de outubro de 2018

O ocaso de José?

"A última versão de José Mourinho é observada com uma atenção particular. Porque se trata de uma personagem muito diferente daquela a que nos habituámos nos últimos quinze anos. Durante este longo período, conhecemos o homem de Setúbal em versão “Special One”, o treinador que coloca o ego acima da equipa e o torna uma potente força de transformação. Nos últimos tempos, porém, vemos uma versão que oscila entre o irritado e o resignado. E, tanto num caso como no outro, não é o Mourinho que construiu uma imagem e uma marca capazes de o destacar tanto no plano global.
Os acontecimentos da semana passada deram indicações bastante claras de que este seja uma fase de passagem. E para melhor compreender se se trata de uma passagem definitiva ou se é apenas um facto transitório é bom examiná-los. A partir do mais recente: a recusa de muitos jogadores do Manchester United em participar num evento organizado por um patrocinador. A motivar esta clamorosa tomada de posição terá estado o descontentamento dos jogadores com algumas falhas organizativas do clube. Mas não é este o detalhe que mais interessa. Mais importante é o facto de, como rezam as crónicas, Moutinho ter ficado de parte em relação á decisão dos seus jogadores. Os quais teriam, de qualquer modo, sido livres de tomar a decisão, independentemente da posição e da opinião que o treinador tivesse expressado. Mas mantém-se o facto de um treinador, especialmente um com esta personalidade e esta liderança sobre um grupo de jogadores, não ter intervindo numa situação que arrisca tornar-se de difícil gestão nas relações entre o clube e os jogadores.
Esta inércia foi a mesma que Mourinho mostrou na terça~feira á noite, em Old Trafford, na partida perdida pelo Manchester United frente à Juventus. Durante quase todo o jogo, Mourinho esteve de pé, em frente ao banco, de mãos nos bolsos e expressão fixa. Não deixou transparecer uma emoção. Os repórteres presentes nas imediações dos bancos confirmavam a impressão que os tele-espectadores tinham de olhar para os ecrãs: a de um homem distante, quase ausente. Como se fosse um espectador neutro, a passar ali por acaso e que por isso não quisesse incomodar.
O que descrevi até aqui é um Mourinho inerte e quase fatalista. Mas existe também um outro: o Mourinho irritável e pronto para a polémica, semelhante àquele a que estamos habituados. É pena que as suas reacções não estejam à altura do seu passado. Durante a semana passada, o treinador do Manchester United mostrou por duas vezes, em dois contextos diferentes e com dignificados distintos, o sinal do “três” com os dedos. A primeira vez que o fez foi no sábado, no final do jogo em Stamford Bridge entre Chelsea e Manchester United, empatado pelos donos da casa num final de temperatura elevada e emotiva. Após o apito final, o público do Chelsea mostrou reprovação a Mourinho, recordando uma relação que teve momentos de glória mas depois acabou mal. E o treinador do Manchester United exibiu os três dedos para lembrar que com ele à frente da equipa, os Blues ganharam três campeonatos, pelo que os adeptos de Stamford Bridge deviam estar-lhe gratos. 
A cena repetiu-se três dias depois, na parte final do Manchester United-Juventus. Do sector ocupado por adeptos italianos partiram repetidamente cânticos ofensivos para José Mourinho, que a dada altura decidiu responder-lhes, voltando a mostrar três dedos. O significado era agora diferente: referia-se, nesta circunstância, ao triplete que ajudou a conquistar no banco do Inter, em 2009/10: campeonato, Taça de Itália e Liga dos Campeões. Um feito que se tornou mítico para os adeptos interistas e que a Juventus dos sete campeonatos ganhos de seguida nunca conseguiu igualar.
Tanto em Stamford Bridge como em Old Trafford, as mensagens foram claras. Mas resta o facto de ambas terem deixado um sinal pouco assegurador para Mourinho. O sinal de que para responder às polémicas começa a agarrar-se aos sucessos do passado. E isto não é bom. Porque quando nos agarramos às glórias passadas é porque o presente é pobre. E as perspectivas de futuro não são assim tão promissoras."

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