"Há não muito tempo nos serões televisivos discutiam-se palavrões. O presidente do Sporting tinha dito «bardamerda» para quem não era do seu clube e o tema rendeu de pano para mangas.
Bruno de Carvalho inspirou-se num termo aplicado num contexto absolutamente distinto e bem mais apropriado pelo seu tio-avô Pinheiro de Azevedo, almirante que em 1975 chegou a primeiro-ministro de Portugal durante o Período Revolucionário em Curso (PREC) no pós-25 de Abril.
Convenhamos: a afirmação é uma grosseria sem sentido, porém, não tem valor-notícia.
Serve este episódio para sublinhar que o futebol português vive em permanente discussão. Quando não há tema, arranja-se um e essa premência em fomentar o conflito prejudica a hierarquização sobre o que vale ou não a pena ser escrutinado.
No fundo, o exercício do jornalismo responsável até é simples: há que separar o trigo do joio e não publicar ou difundir o joio.
Em termos noticiosos, o denominado «caso dos e-mails» é boa parte dele «trigo». Se se provarem os indícios, as denúncias e acusações imputadas a pessoas ligadas ao Benfica são graves e abalam seriamente as estruturas do futebol português – por muito que haja uma recente tentativa do departamento de marketing encarnado em aligeirar o tema e abordá-lo sob uma perspectiva humorística.
O caso é de polícia (está entregue à Unidade de Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária) e, estando sob alçada da justiça desportiva e civil, é neste âmbito que se terão de apurar factos e responsabilidades.
Contudo, o meu ponto aqui não versa a justiça, mas sim o jornalismo.
Cabe então o quê ao jornalismo?
Na forma como concebo a profissão cabe a quem a exerce tentar apurar informação relevante sobre o processo, verificando-a através de diferentes fontes, relacionar dados e fazer todas as perguntas que têm de ser feitas aos visados até que as devidas respostas sejam dadas. Cumpre-se assim a missão de esclarecimento da opinião pública.
Mesmo que privilegiemos o espectáculo em detrimento da polémica, há que esclarecer os fundamentos de uma suspeição tão pesada que pode manchá-lo de forma insanável.
Defender o espectáculo é, antes de tudo, fazer luz sobre as sombras que pairam sobre o jogo e são o seu principal inimigo.
Há portanto que abordar casos como este com rigor, equilíbrio e espírito crítico. Aliás, sem espírito crítico um jornalista é pouco mais do que um dactilógrafo.
Essa abordagem implica também responsabilidade por parte da comunicação social, que se quiser dedicar-se a debater um tema de justiça consecutivamente deve promover debates sempre com pontos de vista diversos.
Deve de, por exemplo, quando difunde a opinião de um comentador independente ou de determinado especialista em arbitragem ou em direito desportivo, divulgando um parecer como se fosse o único possível, ter em conta se há alguma conotação do formador de opinião com uma das partes em conflito.
Cabe à comunicação social, no fundo, respeitar a inteligência da sua audiência. Ao fazê-lo está a defender-se, porque a batalha além de jurídica é também mediática.
Voltando ao início do texto, não é por culpa das alusões a Pinheiro de Azevedo que o clima de PREC se instalou no futebol português; mas sim da lógica gonçalvista de «estão connosco ou contra nós» que por estes dias se aplica a todos quantos abordam determinado assunto ou se calam sobre ele.
Vasco Gonçalves, general antecessor de Pinheiro de Azevedo como primeiro-ministro no pós-revolução, quis a determinado período do seu (também) curto mandato separar as águas num célebre discurso perante os trabalhadores da Sorefame:
«Hoje, só há duas alternativas: ou se está com a revolução ou se está com a reacção. Não há terceiras vias, nem há neutros aqui. Não pode haver neutros!»
Contrariar o seguidismo que marcou os «tempos de brasa» da jovem democracia portuguesa é um dever do jornalismo, tal como da Justiça."
Este gajo é jornalista?
ResponderEliminarNa linha 43, começa com "Deve de,......"!!!!
Que é isto?
É Português? Da Gramática Portuguesa?
Imbesteguesse!
Cumps.