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quarta-feira, 12 de abril de 2017

A maior ameaça de sempre ao futebol

"Se tivéssemos ganho aquele jogo que perdemos em dezembro, agora bastava empatar este. Se aquela bola que bateu na trave tivesse entrado, o jogo seria totalmente diferente. Se o árbitro tivesse visto aquela falta, se calhar até nem perdíamos.
O futebol tem muitos «ses» e o mais normal é aparecer logo alguém a dizer que o «se» não interessa. Mas…e se? Já interessa? Interessa e muito.
E se aquele frango não tiver sido bem um frango? E se aquele passe falhado tiver sido, afinal, calculado com toda a precisão? E se aquela reviravolta não tiver sido incrível mas consentida? E se na bancada estiver alguém sentado conhecedor de resultado e marcha do marcador ainda o árbitro não tinha apitado para o início?
Enquanto meio país discute com o outro meio se foi fora de jogo ou não, se o penálti foi bem assinalado ou aquela bola entrou mesmo na baliza, um problema bem maior corrói, centímetro a centímetro, a estrutura que sustenta todo o fenómeno.
O problema das apostas é a maior ameaça de sempre ao futebol. Maior do que o doping, por exemplo. Nem um presidente incompetente, um director corrupto, um treinador mal intencionado e, muito menos, um jogador com pouco jeito têm capacidade para fazer tão mal ao desporto como a desconfiança.
Antes, o Liverpool recuperava de um 3-0 em 45 minutos e era só épico. Hoje fazem o mesmo e é de investigar. O 5-3 de Portugal à Coreia do Norte levantaria muitos sobrolhos houvesse apostas online na década de 60.
O problema central não é, assim, o que se ganha, o que se perde, se serão ou não apanhados. O maior golpe é mesmo a desconfiança. Que o imprevisto passe a ser sempre suspeito, o que fere de morte toda a lógica do futebol.
A sociedade actual acredita em cada vez menos coisas. Não há fé no amor, na amizade, no casamento, na boa vontade, na política, no jornalismo, na solidariedade. Olhamos para uma imagem à procura do Photoshop, ouvimos um cantor identificando os efeitos que a gravação levou.
Vemos uma prova de ciclismo à espera da contra-análise. Apresentam-se números de vendas e fala-se em «milhões da treta». Vê-se um erro de um árbitro e tenta-se logo descobrir intencionalidade.
Não há fé em nada e nem sequer entramos por caminhos religiosos.
Era mesmo preciso acrescentar o jogo da bola, até agora território sagrado?
É urgente uma solução que limpe de vez a dúvida e deve ser esse o foco dos responsáveis do futebol nos próximos tempos. Pois se deixamos de acreditar que aquele remate foi naquela direcção porque havia a melhor das intenções, mais vale fechar o campo e, como no velhinho jogo da rua, pegar na bola e levá-la para casa. Porque aí, pelo menos, todos suavam para ganhar e a única aposta que valia era a do vais ver como eu te ganho."

1 comentário:

  1. Desde a "urgência" em legalizar o jogo online que digo isto. É bom ver os que na altura o defendiam como a salvação do futebol doméstico, agora serem tão puristas.

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