"Pelo que se viu esta semana, ganha dimensão a vitória do Benfica sobre o Dortmund. Mas não deve a águia ignorar como a conseguiu!
Disse Mourinho esta quarta-feira que o miúdo Ederson salvou o Benfica no jogo com o Borussia Dortmund. Falava o treinador português numa conferência de imprensa do seu Manchester United quando lhe pediram para comentar o triunfo encarnado Mourinho destacou naturalmente Ederson e com toda a razão.
Ederson ficou na verdade como o gigante encarnado de uma noite que para já valeu ao Benfica ter mantido realmente em aberto estes oitavos de final da Liga dos Campeões. Um golo na Alemanha e podem na verdade os benfiquistas ter esperança de seguir em frente numa competição que é tão dura, tão particular, tão exigente, tão surpreendente que o Barcelona só levou quatro em paris e o Arsenal só levou cinco em Munique.
O miúdo Ederson foi mesmo impressionante na Luz. Executou, sobretudo, três defesas decisivas - duas a remates de fora da área, o último dos quais a levar a bola a tocar no corpo do imprudente Jiménez e a quase trair o fenomenal guarda-redes encarnado, e uma a parar a grande penalidade que condenou no jogo o gabonês Aubameyang. Nesse sentido, Ederson salvou, pois, o Benfica e terá confirmado ser, no momento, um dos cinco melhores guarda-redes a jogar na Europa, num grupo que, a meu ver, terá ainda o eterno Buffon (Juventus), Manuel Neuer (Bayern), De Gea (Man. United) e Oblak (Atl. Madrid).
Ederson não podia, pois, deixar de ter sido considerado a grande figura deste duríssimo embate da mais difícil competição de futebol do mundo, que reservou ao Benfica o destino de sofrer e saber sofrer diante de um Borussia Dortmund muito poderoso e muito ofensivo, mas que foi incapaz de fazer um golo na Luz.
O principal mérito do Benfica? Sobretudo, repito, o de ter sido humildemente capaz de aceitar o sofrimento a que o jogo o destinou, quer por ter entrado com um onze demasiado desequilibrado, na minha opinião, quer por, em muitas circunstâncias, não ter sabido dar um safanão no domínio adversário, mostrando insuficiências de algum modo até inesperadas - Carrillo não foi capaz de interpretar o indispensável papel defensivo e Rafa nunca conseguiu ser elo de ligação eficaz de acção atacante.
Mas não foi só. Não me lembro de ver Fejsa, por exemplo, fazer um jogo tão mau, do mesmo modo, já agora, que me parece que há muito que Luisão não fazia um jogo tão bom, tendo até (coisa pouca!!!) sido decisivo no golo conseguido por Mitrolgou.
Foram poucos, na verdade, os jogadores encarnados que conseguiram aproximar-se mais do nível que exige a Liga dos Campeões (fantásticos Ederson e Nélson Semedo acima de todos os outros). Apesar disso, não se pode esquecer o trabalho muito competente de Mitrolgou, o bom desempenho dos centrais, a permanente a extraordinária atitude de Salvio mesmo quando as coisas não lhe correm bem, e a esperteza de um Eliseu que se limitou a tentar não dar, e na verdade não deu, um único passo em falso.
Bem mais pálidos em campo Fejsa e Pizzi, sem nunca conseguirem pegar na bola, e Carrillo e Rafa, que não deixaram praticamente nada no jogo.
Percebe-se, assim, como o Benfica se vale muito da estabilidade emocional da equipa e da força de um balneário que só pode mesmo respirar um ambiente... muito saudável. Sem isso, dificilmente resistira a tanto.
Junte-se-lhe ainda o poder mágico do inexplicável, porque há no futebol - e todos no futebol sabem que há - treinadores que são autênticos... pés frios... capazes de atrair a infelicidade mesmo quando nada o faz prever, e treinadores que são verdadeiros pés quentes... abençoados até no momento em que o talentoso adversário escolhe atirar a bola para o centro da baliza na marcação do penalty e vêem (muito invulgarmente) o seu guarda-redes decidir não se mexer e (muito surpreendentemente) defender a bola e garantir a vantagem.
Rui Vitória, está visto, é mesmo um treinador pé quente!
Foi o Borussia Dortmund senhor do jogo na Luz. Mas é bom lembrar que uma boa parte dos momentos de maior aflição vividos pela equipa da Luz aconteceram por culpa própria e não tanto por mérito do adversário - a bola perdida em zona proibida, o mau alívio, o corte defeituoso, a atrapalhação no momento de decidir o caminho a dar ao lance (por exemplo, quando Fejsa ficou à espera de Ederson e Ederson ficou à espera de Fejsa, num lance aparentemente controlado que acabaria por dar ao Dortmund mais uma oportunidade para marcar).
Em todo o caso, é evidentemente consensual a dificuldade que o Benfica sentiu para suportar a qualidade de jogo da equipa alemã, o que ainda releva mais a dimensão da vitória benfiquista, graças a um golo pleno de eficácia e sentido de oportunidade (muito bem Luisão e melhor ainda Mitrolgou!...) e a um evidente e sólido espírito de equipa, volto a repetir, que tem realmente permitido ao Benfica de Rui Vitória superar-se mesmo quando a realidade do jogo nos mostra um futebol encarnado bem mais insuficiente do que seria de esperar.
Como foi, mais uma vez, o caso."
João Bonzinho, in A Bola
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