"Escrevo esta crónica a poucas horas de entrar no Estádio da Luz para assistir ao embate com o Dortmund, em Dia dos Namorados. Olho cerca de 25 anos para trás e vejo-me, com uns 16 ou 17 anos, a encher a mochila de comida para ver o SL Benfica a jogar em casa, a uma quarta-feira, para a Taça dos Campeões. Não me lembro quem era o adversário, nem em que fase de competição nos encontrávamos. Isso não é importante para a história. Era sempre assim, de cada vez que havia noite europeia. Dia de semana, saíamos de Setúbal - uns amigos e eu - como a Luz em mente.
Apanhávamos o comboio até ao Barreiro, cruzávamos o Tejo de barco até à Praça do Comércio, atravessávamos a Baixa a pé até ao metro e só saíamos no Colégio Militar. Levávamos tupperwares com panados e rissóis, comprávamos cervejas pelo caminho acampávamos à porta da Rampa 2, à espera que nos deixassem aceder ao Terceiro Anel.
Entrávamos três ou quatro horas antes de o jogo começar, jogávamos à sueca e à moeda sobre o cimento das bancadas. Esperávamos, sem angústia.
A equipa entrava em campo para aquecer e era a loucura. Do topo do estádio tentávamos adivinhar quem jogava de início. Passávamos hora e meia a cantar, a incentivar, a insultar quando se justificava. Os golos eram festejados com o mesmo com quem se partilhavam os rissóis.
No fim do jogo, já a caminhar para a meia-noite, fazíamos a viagem de regresso a casa: a pé, de metro, a pé, de barco, de comboio, a pé novamente.
Duas horas para chegar à cama. O dia seguinte era de escolha às oito da manhã. Ninguém se queixava. Ninguém se continua a queixar. O amor é assim."
Ricardo Santos, in O Benfica
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