"A festa do título das águias chegou. O Benfica confirmou frente ao Olhanense aquilo que já se tornara evidente há algumas jornadas. É o novo campeão, numa temporada que nem começou como os encarnados desejavam, mas durante a qual acabaram por se afirmar como aqueles que dispunham de melhor plantel e de um conjunto de soluções muito mais equilibradas do que os adversários directos. O clube da Luz apostou tudo no grande objectivo da época e apostou bem.
Luís Filipe Vieira é, em primeira instância, responsável pelo sucesso agora conseguido. Renovar com Jorge Jesus, numa altura em que praticamente todos os mais próximos do presidente não acreditavam na solução da continuidade, foi uma opção pessoal de risco. Vieira sabia que, se algo corresse mal novamente, não seria apenas o técnico a pagar a factura. Acreditou e, mais do que isso, deu ao treinador todas as condições para triunfar. Ter conservado um número significativo de peças valiosas do plantel foi igualmente relevante.
Já Jorge Jesus conhecia bem o que tudo aquilo implicava. Ora, o facto é que, apesar de ter iniciado a temporada em condições difíceis - recorde-se que arrancou com uma derrota na Madeira e até esteve a cinco pontos do FC Porto - , o técnico soube lidar com um cenário adverso e contou com o empenho muito especial dos jogadores. Ultrapassada, cedo, a questão-Cardozo ("pendente" da época anterior), Jesus teve a capacidade para mudar o que foi necessário a partir da lesão prolongada do ponta de lança. Rodrigo e Lima deram conta do recado (repare-se que, no total do campeonato, Cardozo teve uma participação diminuta), enquanto Gaitan e Markovic se impunham como desequilibradores.
Mas falava atrás das múltiplas soluções deste plantel encarnado. Muito mais centrado na solidez defensiva - Luisão e Garay foram fundamentais neste contexto - , o Benfica teve no meio campo um homem fulcral : Enzo Perez foi o elo de ligação entre o destruir e o construir, passando por ele o "pensamento" de jogo que Jesus definira. Matic e Fejsa dividiram a temporada, mas, embora sejam jogadores com perfis distintos, encaixaram na lógica encarnada. Talvez até Fejsa vá mais de encontro ao que Jesus gosta (sem retirar as qualidades notáveis que Matic tem). O facto é que Matic, Fejsa ou até André Gomes funcionaram de acordo com o exigido sempre que lá estava...Enzo.
É certo que o Benfica beneficiou - ninguém faz campeonatos sozinho - do colapso do FC Porto. Simplesmente, por um lado, os encarnados não têm culpa dos equívocos em que o rival resolveu cair e, por outro, tiveram o mérito de fazer vingar as suas próprias qualidades, independentemente do que a concorrência fazia.
Depois, ao definirem o campeonato como o objectivo central da época, as águias seguiram à risca o plano traçado, sem concessões. Jesus, que aprendeu com o passado, jogou as (principais) fichas onde queria, em vez de tratar todas as frentes por igual. Deu-se bem e, talvez desta feita, com o conforto do título garantido, seja tempo de virar a agulha para outros alvos. Europeus, sobretudo.
O Benfica é um justo vencedor. Se serve para alguma aferição - e, por regra, serve - basta recordar os confrontos dos encarnados no campeonato com os rivais, Sporting (Alvalade e Luz) e FC Porto (Luz), em que foi melhor em todos os aspectos. A época ainda não terminou e logo se verá que mais pode conseguir a equipa de Jesus. De qualquer forma, aconteça o que acontecer, a história desta temporada já nada tem a ver com a anterior."
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