"O Futebol é, infelizmente, um fenómeno transversal na sociedade portuguesa. O Futebol é, não menos felizmente, um dos poucos fenómenos suscetíveis de conferirem alegria ao povo na sociedade portuguesa. Só que o Futebol, sobretudo agentes do Futebol, não devem ou não podem receber honrarias institucionais, depois de terem uma folha de serviços manchada de ilicitudes e outras coisas mais.
O representante máximo do FC Porto acaba de ser recebido na Assembleia da República. A presidente do Parlamento, de sorriso aberto, não faltou à cerimónia, à semelhança de vários deputados das mais distintas latitudes partidárias. A coisa teve um ar de grande formalidade. Ser portista, convenhamos, não é crime. Mas representantes da Nação, eleitos pelo povo, em plena Casa da Democracia, para mais com a presidente do hemiciclo a conferir toda a importância ao aocntecimento, rececionarem o líder do FCP, constitui uma vergonha.
Até podem sustentar que a criatura não foi condenado. Mas não podem ignorar, no mínimo, as Escutas no âmbito do processo Apito Dourado. Essas mesmo que provam à sociedade quem tentou, por métodos perversos, inquinar a Verdade Desportiva em Portugal nos últimos anos.
Em 2004, o então presidente da República, Jorge Sampaio, recebeu-me em Belém, com uma comitiva de jogadores do nosso Clube, a pretexto do lançamento de um livro da minha lavra sobre a história do Benfica. Nesse ano, recusou patrocionar uma cerimónia de felicitações ao FCP que se havia sagrado campeão da Europa, estava ao rubro o Apito Dourado. Sampaio fez bem, embora o diga como juíz em causa própria. O Parlamento continua mal. Muito mal. Não se dá ao respeito. Temos deputados que se esqueceram das conversas da fruta. O que são? Fruta desprezível, fruta abjecta."
João Malheiro, in O Benfica
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