"Ramalhete, Fernando Pereira, José Carlos, Picas e Piruças. Eram estes, já sem António Livramento (então no Sporting), os nomes constituintes do cinco-base do Benfica que, em finais da década de setenta, me cativou para o Hóquei em Patins. Foram eles que, juntamente com José Virgílio, José Leste (recentemente falecido) e Casemiro, conquistaram um Tri-campeonato entre 1979 e 1981, cinco Taças de Portugal consecutivas (de 1978 a 1982), e alcançaram a final da Taça dos Campeões Europeus em 1980, na qual saíram derrotados pelo poderosísimo Barcelona de Trullols, Vila-Puig, Torner, Centrell e Pauls (2-5 no Palau Blau Grana, e uns decepcionantes 4-8 na segunda-mão da Luz). Em 1981, recordo-me de vencerem em Alvalade, por 3-9, no jogo do título, contra um Sporting muito forte, então com os internacionais Sobrinho e Chana na sua plenitude. Lembro-me também de várias vitórias nas Antas, e de grandes goleadas, que na altura eram comuns, e que, para além de Chalana, Bento, Nené ou Humberto Coelho, também me ensinaram a ser benfiquistas.
Fora de Lisboa, era pela rádio que tudo isto me chegava. Naquele tempo, o Hóquei em Patins - fruto dos títulos europeus e mundiais da nossa Selecção - tinha um estatuto substancialmente superior ao das restantes modalidades. Havia o Futebol, depois o Hóquei em Patins, e depois todas as outras. E o destaque radiofónico (as transmissões televisivas de eventos desportivos eram raras) acompanhava essa hierarquia.
Uns anos mais tarde, já com TV, lembro-me também da equipa de José Carlos, Vítor Fortunado, Paulo Almeida, Luís Ferreira e Rui Lopes. Com ela ganhámos cinco campeonatos, duas Taças e três Supertaças. Chegámos novamente à final da principal prova europeia de clubes. Apanhámos novamente pela frente um adversário muito forte: o então dominador Igualada. Esse troféu permanece adiado.
Longa noite
Os tempos mudaram. O Hóquei em Patins foi perdendo popularidade, essencialmente pela forma como os poderes federativos o foram tratando. Com objectivos bem claros, instalou-se uma ardilosa teia de interesses, que, por várias vias, catapultou o FC Porto para uma hegemonia total e absoluta. Da nossa parte, houve também algum adormecimento. Os anos foram passando, e o desfecho final repetia-se de forma invariavelmente angustiante. Alguns, mais impacientes, chegaram inclusivamente a defender a extinção da Secção - o que seria um acto quase criminoso, num Clube que é o mais antigo praticante da modalidade em todo o Mundo. Outros foram aguardando com tenacidade, sabendo que, um dia, o sol voltaria a brilhar.
Ponto de viragem
A contratação de Luís Sénica, e de alguns dos mais brilhantes e experientes jogadores do panorama nacional e internacional, paralelamente ao lançamento de jovens promessas como Diogo Rafael e João Rodrigues, foi o momento de viragem nesta história que se estava a tornar aborrecida. Há dois anos, pingou a Taça de Portugal e uma meia-final europeia.
Na época passada, a Taça CERS, a Supertaça e um promissor segundo lugar no Campeonato com o mesmo número de pontos do primeiro classificado.
Esta temporada começou com a conquista da Taça Intercontinental. Agora, finalmente, o tão ansiado e merecido título nacional (ao qual ainda podemos juntar a Taça de Portugal). Foi o 22.º mas, seguramente, o mais saboroso de todos.
Para quem gosta de Hóquei em Patins, a vitória de Almeirim não foi apenas uma vitória do Benfica. Foi também um triunfo da própria modalidade, contra aqueles que tanto dano lhe causaram no passado recente. Foi uma vitória do trabalho, da dedicação e da competência. Foi uma vitória 'à Benfica', numa temporada que ameaça vir a ser uma das melhores de sempre do ecletismo 'encarnado'.
Este foi também o título que faltava ao presidente Luís Filipe Vieira. Com ele ao leme, havíamos já sido Campeões de Futebol (em 2005 e 2010), de Basquetebol (em 2009, 2010 e 2012), de Andebol (em 2008), de Voleibol (em 2005), de Futsal (em 2005, 2007, 2008 e 2009), de Atletismo (2011 e 2012), e de Judo (2010), para referir apenas as modalidades mais representativas, e os escalões seniores.
Pela aposta que sempre fez no ecletismo, também ele está de parabéns por este precioso título."
Luís Fialho, in O Benfica
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!