"Colocação em causa da identidade pode trazer consequências graves para a saúde mental da atleta
Retomo na reflexão de hoje o tema da consciência social, ou da falta dela, e a valentia das redes sociais! Entre tudo o que se tem passado em Paris, escolhi Imane Khelif.
Muito tem sido possível ler sobre a atleta a quem chamam «homem», «fraude», «transexual», «feia», «aberração», etc., não só por anónimos pelo mundo fora como por figuras de relevo de diversas áreas e nacionalidades, que apelam à exclusão de Imane Khelif. No seu combate de apuramento para as meias-finais a atleta gritou «sou uma mulher». No mesmo palco, nas mesmas redes sociais onde se aplaude Simone Biles no seu regresso após ter defendido uma cultura desportiva positiva e a elevação do autocuidado e da saúde mental, alguém parou para pensar o que toda esta polémica pode ter como consequências psicológicas para Imane Khelif?
Uma jovem de 25 anos, que nasceu mulher, cresceu mulher e competiu sempre como mulher, mesmo em 2021, nos Jogos Olímpicos, em que foi eliminada pela Irlandesa Kellie Harlington, vê agora a sua identidade colocada em causa, por um teste realizado (sendo que não sabemos que teste, pois o IBA não o identifica). Algum dos leitores conhece verdadeiramente o seu código genético? E se agora alguém lhe dissesse que não é o que é, como se sentiria? Aceitando que os resultados do teste do IBA existem e são verdadeiros, existem diversas explicações médicas e científicas que explicam como Imane Khelif pode ter no seu código genético XY e ainda assim tenha nascido com características femininas e como tal crescido como mulher na sua identidade e na sua totalidade.
A humilhação pública, o bullying que tem sofrido, mas acima de tudo colocarem em causa a sua identidade, «quem é Imane Khelif?» pode trazer consequências graves para a saúde mental da atleta, não só enquanto competidora, mas também enquanto pessoa. Podemos encontrar na ciência inúmeras teorias que explicam este impacto, desde as teorias mais humanistas (ex. Carl Rogers) às psicanalíticas (ex. Sigmund Freud) ou às cognitivas (ex. Leon Festinger). Independentemente da corrente que se siga, o fenómeno a que Imane Khelif tem sido exposta constitui um elevado risco para a saúde mental da atleta, pode afetar a sua autoconfiança e autoestima, podendo desenvolver ansiedade, isolamento social e até depressão.
Imane Khelif já enfrentou limitações na sua cultura para se tornar a pugilista que é hoje, agora enfrenta uma polémica mundial que discute quem é ela e se merece ou não competir! Quem somos nós, cada um de nós, para fazer esse tipo de julgamento quando o Comité Olímpico diz que sim?"
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