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quarta-feira, 24 de abril de 2024

A doença (mas curável)


"Pentacampeonato do Benfica em 2017/18 teria mudado o seu trilho desportivo nacional

Serve de mote para o texto de hoje uma notícia que circulou nos media que aclamou a Benfica SAD como rei das transferências no futebol nacional nos últimos cinco anos mas sem que houvesse correspondência em títulos desportivos. Embora legítima a análise da peça jornalística com base no seu hiato temporal, este peca ao contabilizar uma época que ainda não findou (2023/24) e por englobar um período curto de tempo a nível económico que é, ao mesmo tempo, dilatado a nível desportivo.
Se fosse feita uma análise a 10 anos, é verdade que o investimento teria sido sempre maior, mas o Benfica contabilizaria seis títulos de campeão nacional (com três para o FC Porto e um para o Sporting). Não estou a querer contradizer a evidência do investimento e da gestão económico-financeira suportados no custo de 383,05 milhões de euros nos últimos cinco anos. Mas coloco em causa a sua respetiva correspondência a nível desportivo pois, para este efeito, é exigível sempre uma assunção mais rigorosa, criteriosa e sensível por cada época que compõe a referida análise com base em incontáveis fatores (planeamento e equipas dos concorrentes, lesões, vendas, dívida, etc.).
Ou seja, nunca se deve partir do pressuposto (errado) de que quem investe mais será sempre quem, à partida, ganhará mais ou terá que ganhar mais. Isto porque é possível adquirir valor desportivo positivo através de um gasto menor tal como se pode adquirir valor desportivo negativo a preço de ouro. Por outras palavras, é fácil pagar caro por jogadores que não servem o projeto desportivo, tal como investir menos dinheiro e cirurgicamente para aumentar a probabilidade de sucesso. Agora, não devem servir de estudo para debate os valores e contas com base num espaço temporal aleatório para depois se fazer a sua correlação com quem foi campeão por cada época. Se assim fosse, bastava pegar na rácio económica das últimas cinco épocas desportivas em que a SAD do Benfica e do Sporting apresentaram resultados líquidos positivos acumulados e idênticos de 21 milhões de euros para depois se medir diretamente o sucesso desportivo entre cada uma.
Mentalizem-se: as culturas e as idiossincrasias de cada clube são distintas, logo, forçam e obrigam a gestões diferenciadas. Ainda hoje se vive a tendência, cuja origem e razão de ser se desconhece, em querer comparar o que é incomparável. O único momento em que se pode analisar por comparação os três maiores clubes portugueses surge em campo, quer no confronto direto entre eles por cada época, quer indiretamente contra as outras equipas tendo por base o desempenho e resultado dos seus rivais. Ora, o apuramento da doença de que cada SAD eventualmente padece resulta sempre da sua forma de gestão e planeamento.
No que respeita ao Benfica, há de facto um período desportivo (e não económico) relevante de cinco anos no seu passado que não foi concluído e que hipotecou o seu futuro. O facto de não ter conquistado a Liga 2017/18, por culpa única e exclusiva dos dirigentes, não lhe permitiu obter um inédito pentacampeonato que teria mudado o seu trilho desportivo nacional dali até hoje. Recordo que o planeamento dessa época ficou caracterizado pela venda de quatro jogadores altamente influentes por um preço total de 85,740 milhões de euros (Ederson, Nélson Semedo, Lindelof e Mitroglou) e pelo investimento de 8,250 milhões de euros em sete jogadores (Krovinovic, Svilar, Chrien, João Amaral, Matos Milos, Pedro Rebocho, Bruno Varela, enquanto Seferovic veio a custo zero e Gabriel Barbosa por empréstimo).
Neste caso, vendeu-se qualidade e talento por preço elevado mas não se colmatou o buraco com matéria suficiente para manter a velocidade cruzeiro rumo ao título que mudaria a sua história e que provocaria um rombo nos seus dois rivais diretos que ainda hoje teriam muitas dificuldades em recompor-se. Note-se que o 1.º semestre da SAD nessa época 2017/18 apresentou lucros de 19,1 milhões e uma redução do passivo em 53 milhões com um encolhimento da dívida bancária em 7% (fixação do passivo à volta de 385,4 milhões e do ativo em 473 milhões). Mas as receitas sofreram uma redução de 6,9% devido à quebra em receitas de prémios monetários pelo desempenho desportivo na Europa. A culpa é dos treinadores e atletas? Não: é de quem os contrata!!!"

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