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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Operação Alma Benfiquista


"Não sei porque sou Benfiquista, se calhar nem estava destinado a ser.
Nunca tive referências nem influências nesse sentido (a minha mãe torce pela dupla Chaves/FCP) e o meu pai, gostando do Benfica, não liga muito e nem se importa que o Sporting ganhe. Nunca tive sequer um tio ou avô que me guiassem.
Nascido e criado junto ao antigo José de Alvalade, desde sempre fui "sequestrado" por amigos sportinguistas para passarmos incontáveis dias e horas nos corredores daquele estádio: assisti a treinos de todas as modalidades (incluindo kick-boxing com o Fernando Fernandes) e foi a afinar a pontaria numa baliza deserta que me cruzei pela primeira vez com o grande Paulinho. Às vezes corria a noticia de que os seniores de futebol fariam treino aberto no Campo Grande e lá íamos nós ver os craques do Sporting. Lembro-me bem do corredor humano que os adeptos faziam à saída da porta 17(?) e do valente "caldo" que um amigo mais entusiasmado espetou no Figo. Se houvesse sorte, no final do treino e já depois de os jogadores recolherem, ainda conseguíamos bater uns quantos penalties antes que nos expulsassem do campo. No ano seguinte, recordo as muitas tardes passadas a ver o Juskowiak marcar golos mesmo à minha frente já que havia muitos jogos onde até aos 11 anos não pagávamos bilhete na bancada da Torcida Verde. Outros tempos. Do Benfica é que nada!
Até essa altura, e voltando atrás no tempo, apenas por uma vez tinha ido ao Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Foi no dia 12 de Abril de 1987, nem 5 anos tinha portanto, e não me consigo recordar quem me terá levado - algum familiar de visita a Lisboa seguramente. O adversário nessa tarde foi o Salgueiros (1-0 golo de Rui Águas) e a única recordação que tenho desse jogo é de estar sentado bem lá no alto (foi aí que senti vertigens pela primeira vez) em cima de cimento frio. Curiosamente o nosso GR nessa tarde, Silvino Louro, viria também a apadrinhar a minha estreia no Municipal de Chaves em 22 de Março de 1998 quando defendia as cores do...Salgueiros (0-0)! Ele há coisas... 
A partir daí recordo-me de passar tardes em casa a gravar relatos inventados para um microfone. Cada jogada imaginada por mim era magistral e o "matador" era invariavelmente Magnusson. É o primeiro nome que associo à palavra ídolo, só mais tarde acompanhado pelo de JVP.
Um par de anos mais tarde comecei a jogar futebol de rua. Era avançado e marcava muitos golos e os vizinhos diziam à minha mãe que eu tinha de ir para uma escola de futebol. Um dia tive o seguinte diálogo com a minha mãe:
- Se quiseres podes ir treinar para o Sporting, que vais sozinho a pé.
- Mas, Mãe, eu quero ir para o Benfica!
- Benfica é longe para ires sozinho e eu não te posso acompanhar. É Sporting ou nada!
- Então é nada!
Peguei na minha bola e lá fui para a rua imaginar que era o sueco do Benfica.
Uns meses depois a minha mãe ainda fez uma derradeira tentativa e levou-me às escolinhas de verão do Humberto Coelho (não era o Benfica, mas já dava uns "ares"). O sr. Humberto - himself - veio receber-me à entrada e, ao ver aquela figura apertar a minha mão, aconteceu-me o mesmo que ao Rushfeldt. E assim continuei a ser o melhor marcador da minha rua.
Não foi até finais dos anos 90 que comecei a frequentar com mais assiduidade o nosso Estádio - belas tardes a ouvir a música da Fafá ao intervalo, era a única coisa boa daquela altura!
Hoje, emigrado há 9 anos, sinto como nunca a falta do meu Benfica.
Do Benfica que me fez ser informático em vez de futebolista. Do Benfica que me faz ir a reuniões com o portátil cheio de "Tó.colantes".
Não o digo pelos 1300km que nos separam - o grupo sólido de amigos que aqui tenho tem a sua génese num bar português a ver jogos do Benfica -, mas porque sinto o Benfica distante.
Distante dos seus adeptos, mais preocupado com a matemática financeira que com as lutas e as conquistas, mais preocupado em vender que com as bancadas a ferver de "Benfica".
Falta Benfica ao meu Benfica.
Falta um sentimento guerreiro, lutador. Faltam capitães à altura. Falta o INFERNO e o temor dos jogadores (contrários e da casa) pelo Terceiro Anel.
Eu sei que nós, os adeptos, ainda cá temos tudo dentro, disponíveis para dar do nosso Benfiquismo ao Benfica.
Qualquer dia ficamos sem referências como Toni ou Simões e aí poderá já ser tarde. Mais do que os resultados, há posturas e atitudes no nosso clube que nao representam os nossos valores.
Uma vez Benfiquista, Benfiquista para sempre. Só que às vezes preciso de ir ao Youtube ver imagens do antigo Pavilhão. nº2 cheio até ao tecto para relembrar velhos tempos.
Ando triste, agastado (afastado?), mas se der para transferir Benfiquismo para alguma conta, como sucedeu em meados dos anos 90, avisem-me que quero contribuir.
Viva o Sport Lisboa e Benfica!"

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