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quinta-feira, 7 de maio de 2020

Consegue-se viver sem 'Futebol'. Será?

"Identifico-me em várias situações com o Presidente da FPF. Jogamos a mesma modalidade, Basquetebol, no mesmo clube, FC Porto e na mesma posição, Base. Para além disso, aprecio a discrição com que lidera, fazendo muito e “dizendo pouco”. Também estou sintonizado com a oportunidade de mudança que o momento actual proporciona e, sobre isso mesmo, escrevi um pequeno ensaio (“O Futuro é Agora” - https://abola.pt/Nnh/Noticias/Ver/835716) e que poderá estar implícita à afirmação -“as pessoas conseguem viver sem futebol”.
Antes de explorar a resposta à questão colocada, sublinhar a utilização da palavra futebol entre aspas (“futebol”), por estar a representar desporto, entretenimento, cultura, (…). Parece que disse que “as pessoas conseguem viver sem futebol” e o exercício que proponho a fazer é de o reflectir se “Será Que Conseguem?”.
Fruto dos acontecimentos das últimas semanas, a reacção inicial poderá ser a de acordo. Mas será que uma reflexão mais profunda nos levará ao mesmo resultado?
Começando por “viver”, se significar ter vida, então poderemos reescrever a frase para: as pessoas conseguem Ter Vida sem “futebol”. Neste enquadramento, será que as pessoas conseguem ter vida sem “futebol”?
Subindo mais um degrau sobre o olhar imediato e tentando ver mais longe, surge uma nova questão: o que é necessário para as pessoas terem vida?
Curiosamente, a nova pergunta introduz o conceito de necessidades (“o que é necessário …”). Ou seja, a eventual resposta a esta questão poderá implicar um olhar ainda mais longe. Vamos subir mais um degrau e explorar o que poderemos passar a ver?
Surpreendentemente, a resposta a esta questão poderá ser encontrada num acrónimo: “V.I.D.A.”. 
Começando pela letra “V” de vida, as pessoas têm necessidade de Viver e prosperar física e economicamente. Isto é, as pessoas têm a necessidade de terem capacidade e autonomia quer no plano físico, quer no plano económico. Será que o “futebol” satisfaz essa necessidade? Por exemplo, é ou não verdade que ao praticarem “futebol”, as pessoas podem melhorar a sua capacidade e autonomia física?
Avançando para a letra “I”, as pessoas têm necessidade de se sentirem Importantes. Será que o “futebol” satisfaz a necessidade das pessoas se sentirem importantes? À luz dos “Ronaldos”, dos muitos adeptos, dos tempos de telejornal, dos jornais desportivos, dos canais de televisão quase exclusivos desta temática, das audiências, (…), a resposta imediata é sim. Uma resposta mais reflectida, que eleve a “importância” para outro plano, como o do significado e contribuição parece igualmente apoiar uma resposta positiva. Por exemplo, é ou não verdade que o lema do Liverpool – “You’’ll Never Walk Alone” – ou do Barcelona – “Mais que um Clube” – elevam a “importância” do “futebol” para o plano do significado e contribuição?
Prosseguindo para a letra “D”, as pessoas têm necessidade de Diversidade e Desenvolvimento. Ou seja, viver ou ter vida exige ter diferentes experiências. Não é também isso que o “futebol” faz? Depois de uma semana de trabalho, as pessoas podem ou não ter uma experiência diferente através do “futebol”? Durante o próprio jogo, as pessoas têm ou não diferentes experiências, quando há um golo, quando se dá a volta a um resultado, quando se testemunham momentos memoráveis, como o golo do Éder?
A terminar o acrónimo “V.I.D.A.” surge a letra “A”. As pessoas têm necessidade de Atenção, Aceitação, Aprovação, Afirmação, isto é, de se relacionarem também com os outros. Ainda recentemente, num documentário sobre o melhor jogador de todos os tempos, foi afirmado que uma das suas forças motrizes, que o faziam querer ir mais longe, era ter a Atenção do Pai. É ou não verdade que as pessoas satisfazem estas necessidades pertencendo a equipas, sendo simpatizantes, apoiantes ou sócios de um Clube?
Ou seja, se viver significar ter vida e vida a satisfação das necessidades das pessoas, será que as pessoas conseguem viver sem “futebol”?
Recordo que interpretei a afirmação inicial como uma “agitar as águas” no sentido de se aproveitar a janela da mudança. Parecia estar satisfeito com a reflexão, mas uma voz sussurrou-me ao ouvido – “parece que há pelo menos mais um degrau, que te permitirá ver mais longe”. Curioso, decidi subir, para ver o que surgia.
O que vi?
Tal como o nascer do dia, surgiu-me uma ideia, que poderá fazer toda a diferença. A ideia envolve distinguir duas situações: uma viver e outra sobreviver. Isto é, para viver, para ter vida, para desfrutar a vida, as pessoas necessitam de satisfazer todas as suas necessidades – a “V.I.D.A.”. Quando não há condições para as satisfazer, quando surgem desequilíbrios entre estas necessidades e a sua satisfação, então começam a surgir problemas no plano físico, económico, mental, social, emocional ou espiritual. Nesses casos, a qualidade da experiência das pessoas baixa, as pessoas deixam de viver, prosperar, e passam a sobreviver. Quanto maiores forem essas diferenças, maior será o desconforto. 
Esta reflexão parece sugerir duas coisas. Primeira, que o “futebol” pode satisfazer as necessidades das pessoas e, ao fazê-lo, ajudar as pessoas a viver, ter vida, desfrutar da vida. Segunda, a alteração de uma palavra podia fazer algum sentido. Isto é, reescrever a afirmação “as pessoas conseguem Viver sem futebol”, para as pessoas conseguem Sobreviver sem “futebol” (recordo que “futebol” tem um sentido mais lato, de desporto, espectáculos, cultura, …).
Contudo, como a última palavra é sua, termino como comecei perguntando: Consegue-se viver sem “futebol”. Será?"

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