"À medida que o tempo passa, as saudades crescem. Saudades de ir à Luz, de me sentar nas bancadas, da ansiedade antes e durante os jogos, da euforia dos golos, de comemorar as vitórias. Também das partidas fora de casa, muitas vezes diante da televisão a roer as unhas entre o sofá e os momentos em que deixo de conseguir ficar sentado. Saudades também das outras modalidades. Do básquete. Do hóquei. Das idas ao pavilhão. Da verificação atenta dos resultados e das classificações nas noites de domingo (os números agora são outros e chegam minuto a minuto: de contagiados, de mortes...).
Saudades também de outros jogos, de outras ligas. Da Premier League à hora do almoço nos sábados. Da Liga Espanhola à hora do jantar (agora são as conferências de imprensa da DGS...). Das provas europeias a meio da semana. Saudades da NBA, da Fórmula 1, do ciclismo. Do desporto. Da vida normal. Da vida. O tempo é da angústia.Também de ausência. Quem sabe de perda. Nunca atravessámos nada como isto. Ninguém estava preparado. Tentamos abstrair-nos. Pensar que tudo não passa de um susto. De um pesadelo. De um momento mau. Há que ver o lado positivo, se ele existe. Talvez Albert Camus tivesse razão quando dizia que nas horas de flagelo há mais cosias no homem para admirar do que para desprezar. Ou José Saramago, que afirmava que a alegria e a tristeza, ao contrário da água e do azeite, poderiam sempre andar unidas. Vale a pena tentar. Viver um dia de cada vez é a receita. Enquanto se espera. Para não desesperar. Para não ceder. Tudo isto há de passar. E tudo talvez volte a ser como antes. Um dia. Ai, esse dia..."
Luís Fialho, in O Benfica
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