"«Sabia que a Inglaterra participou naquela que é considerada a guerra mais rápida do mundo?»
- A Inglaterra em grande!
- Sim.
- Liverpool - Tottenham.
- Quem diria!
- Fala-me da Inglaterra, excelência.
- Sim, quer algumas curiosidades? É uma país bem particular.
- Vamos.
- Pois. Por exemplo, vossa excelência já ouviu falar de pássaros que interferem no tempo?
- No tempo? Nas horas?
- Bem, não tanto. Nos minutos, e já é surpreendente.
- Sim?
- Pois sim. Em 1945, num certo dia, uma manada de pássaros, deixe-me usar o termo - manada - para animais voadores, pois, dizia, então, uma manada de pássaros pousou sobre o ponteiro dos minutos do Big Ben e atrasou-o cinco minutos. Já viu isto?
- O peso dos pássaros a interferir nessa coisa tão fina que não se vê, só se sente, o tempo.
- O peso de elementos que voam, os animais mais leves do mundo, a prejudicar a pontualidade britânica.
- Para a Inglaterra cinco minutos de atraso não são cinco minutos, é uma falha imperdoável.
- Ou o tempo necessário para virar uma batalha.
- A importância de cinco minutos.
- Como se viu.
- Em cinco minutos, tudo pode mudar.
- Sim, e por falar em tempo e em acontecimentos intensos, excelência, sabia que a Inglaterra participou naquela que é considerada a guerra mais rápida do mundo?
- Contra quem?
- Em África, contra a Zanzibar. Durou 38 minutos.
- Trinta e oito minutos?
- Menos do que uma parte de um jogo de futebol. Zanzibar rendeu-se.
- Uma espécie de recorde do mundo.
- E mais? É realmente um país particular.
- Pois, um país onde se vossa excelência colocar um selo da Rainha da Inglaterra virado de cabeça para baixo pode ter problemas graves com a lei.
- Oh, diabo!
- Era muitas vezes um sinal de revolta. Uma espécie de sinal. Daí a lei.
- Ups, é necessário, pois, ter atenção a colar selos. Nada de ingenuidades: os selos são um material perigoso.
- Sim, cuidadinho, Excelência.
- Cuidado com as cartas.
- E gosto particularmente de um belíssimo jardim que existe no Norte de Inglaterra.
- Eu sou um jardineiro em potência, fale-me desse jardim.
- É conhecido como o Poison Garden.
- Ups, jardim venenoso? Porquê?
- Só tem plantas mortíferas. Plantas venenosas, carnívoras, etc. Um pesadelo.
- Isso muda toda a ideia que se possa ter de um jardim.
- Sim, completamente.
- A palavra jardim sempre foi tão meiga para mim. Regar as plantas, adormecer debaixo da sombra das árvores; enfim, excelência, a preguiça e o jardim.
- Neste jardim, se quer o meu conselho, não adormeça debaixo das árvores.
- Pois, também me parece melhor.
- Dar uma volta pelo jardim passa a ser idêntico à expressão: ir para a jaula dos leões.
- Pois.
- A Inglaterra tem ainda umas belas actividades recreativas. Uma que parece excelente, excelência, é o festival que tem uma corrida de queijo.
- De queijo?
- Exactamente. Ocorre em Brockworth, Gloucestershire, em Junho.
- E como é isso?
- Parece que atiram um queijo em forma de bola por uma colina abaixo, uma colina bem inclinaada, a cooler's Hill. E partir daí começa a corrida.
- Corrida?
- Sim, o queijo pode atingir uma velocidade de 100 Km/hora. É uma corrida mais com tendência para a queda. Corrida pela colina abaixo de dezenas de homens, a ver quem alcança o queijo.
- Mais ou menos fascinante, eu diria.
- É uma corrida quase sempre em posição de deitado, aos rebolões. Veja as imagens. É divertido.
- Tudo por causa de um queijo.
- De um queijo em forma de esfera, de bola, não se esqueça.
- Pois, pois, é verdade, sempre a esfera.
- Inglaterra em grande, meu caro.
- Sim, Inglaterra em grande!"
Gonçalo M. Tavares, in A Bola
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