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domingo, 11 de fevereiro de 2018

Campeões

"Sentimos raça e confirmámos talento. Jorge Brás liderou com mestria e Fernando Gomes confirma-se como o presidente campeão.

1. Que noite! Que sábado gordo. Somos campeões da Europa de futsal. E também de futebol. E ganhámos à forte Espanha. Brilhante vitória de um colectivo que abarca jogadores e equipa técnica, Federação e a sua estrutura. Sentimos raça e confirmámos talento. Jorge Brás liderou com mestria e Fernando Gomes confirma-se como o Presidente campeão. Fica o seu mandato como o mandato de ouro da história do futebol português. Saltei, como nunca, de canal para canal. Queria viver tudo nos dois lados, nos dois canais que transmitiam os jogos que me (nos) absorveram e me (nos) contagiaram. E que me (nos) encheram de alegria. Com a certeza da paixão e com a convicção da vitória. Da Eslovénia para Portimão. E no futsal, tal como em Paris, até se lesionou o melhor jogador do mundo de... futsal. Ganhámos a Espanha como ganhámos à França. E este grande Portugal mostra, uma vez mais, que tem talento, que não precisa de naturalizações, que o trabalho dos nossos clubes é valioso, que a capacidade dos nossos treinadores é indiscutível e que a nossa organização é de excelência. E temos razões para sorrir e nos abraçarmos. Uma vez mais!

2. Nos próximos quarenta e três dias faremos uma viagem entre o Carnaval e a Páscoa. Se o Carnaval significa o adeus à carne também é verdade que estes três dias - de Domingo Gordo a terça feira gorda - são o período festivo por excelência em que as máscaras perturbantes e os trajes exuberantes antecipam com a consciência do entrudo - entrada! - o arranque da Quaresma. E no futebol interno - em vésperas de Liga dos Campeões e de Liga Europa - teremos mais seis jornadas até à festividade da Páscoa. Ai na semana santa o Benfica receberá o Guimarães, o Futebol Clube do Porto visitará o Restelo e o Sporting irá a Braga. E desta forma termina uma passagem - que agora se inicia - que também põe fim, em rigor, ao jejum da Quaresma. E tendo nós presente que «tudo o que é já foi, e tudo o que será também já foi»!

3. Era a melhor equipa do Mundo contra o melhor jogador do Mundo. E no final ganhou Portugal sem... Ricardinho nos instantes finais. Mas com Ricardinho a marcar, com o seu talento, o golo inaugural! Esta vencedora equipa de Portugal é uma equipa interna. Só Ricardinho joga no exterior. No espanhol Inter Movistar. Os restantes treze jogam no Benfica (4), no Sporting (também 4), no Sporting de Braga (2) e, ainda, no Leões de Porto Salvo, no Fundão e no Belenenses. É uma selecção de todo o Portugal e suscita a atenção de todo o verdadeiro desportista português. Masculino e feminino. Recordo que a fusão - diria unificação - do futebol de pavilhão, ou de salão, no seio da Federação Portuguesa de Futebol ocorreu em 1997. Havia o futebol de 5 - lembram-se? - e o futebol de salão. Que até tinha uma Federação própria. Com a fusão o futsal dominou e cresceu. Como, mais tarde, o futebol de praia. E, assim, tem razões para sorrir o Doutor Fernando Gomes já que, com a final de ontem, viveu doze finais de grandes competições internacionais. É obra. É um feito. Único!

4. Na Coreia do Sul, em mais uma edição dos Jogos Olímpicos de Inverno, vive-se uma verdadeira trégua olímpica. A bandeira da Coreia unificada brilhou na cerimónia de abertura dos Jogos. A participação, julgada impossível há poucos meses, de atletas da Coreia do Norte é um marco extraordinário. E importa recordar que a noção de trégua olímpica está relacionada com as próprias origens dos Jogos Olímpicos. Na verdade, por volta do ano 884 antes de Cristo e estando a Grécia dominada por conflitos internos e pestes endémicas o seu Rei rumou em peregrinação até Delfos para consultar o oráculo acerca das formas de cessar os conflitos entre as diferentes cidades. O oráculo respondeu que a única forma de salvar a unidade grega era restabelecer os Jogos de Olímpia. E assim, nasceu a trégua sagrada que estabeleceu que, pelo menos de quatro em quatro anos, as cidades suspenderiam os conflitos e participariam, sem os horrores das guerras, em Jogos desportivos. O acordo foi gravado num disco de cobre (dirão alguns de bronze) em que se escreveu: «Olímpia é um lugar sagrado. Quem entrar neste lugar com armas será considerado sacrilégio. E também será sacrilégio todo aquele que, podendo, não castigue aqueles que entrarem armados». E, assim, a cada quatro anos as armas silenciavam-se e havia competição desportiva. Mas cada edição dos Jogos era também um local e uma espaço de ciência. Na verdade, como a participação era exclusivamente masculina, reuniam-se em Olímpia não só os melhores desportistas mas também os grandes escritores, filósofos, cientistas ou historiadores. E os seus anéis, com actos concêntricos, representando hoje os cinco continentes, dão sentido, nesta era moderna, à paz que esteve presente no espírito da Olímpia e também à universalidade que marca, neste nosso tempo, os Jogos Olímpicos. E estes Jogos na Coreia em que mais de três mil atletas procuram, e ambicionam, conquistar 102 medalhas em 15 disciplinas. Estes Jogos arrancaram com uma linda cerimónia de luz e de fogo, e num estádio que custou 92 milhões de euros. E, como exige o protocolo, o desfilo começou com a delegação grega. Mas a seguir, e em razão da ordem do alfabeto coreano, desfilou a pequena representação do Gana. E, assim, estes Jogos Olímpicos da Paz estão a marcar a história. Pyeongchang é a cidade que viu desfilar as duas Coreias. Desavindas. Mas com a consciência que a Coreia do Norte sabe bem que com esta aproximação singular perturba a aliança entre a Coreia do Sul e os EUA. E não é preciso ir a nenhum oráculo - mesmo aos modernos - para perceber que há Jogos mas também há, a partir deles, muita diplomacia que está, e muito, para além de uma inédita participação olímpica.

5. O Benfica ganhou, com esforço e empenho, em Portimão. Mostrou que vai lutar, jogo a jogo, pelo penta. Sentiu-se unidade e vontade. É este espírito de união e este sentimento de conquista que temos de manter nas finais que restam. Portimão confirmou, em definitivo, que o penta é possível. Abriu-se, de verdade, a porta de um desfecho que legitimamente se sonha. Como se concretizou o sonho de nos sagrarmos, com todo o mérito, campeões da Europa de futsal. Campeões, campeões, nós somos campeões!!!"

Fernando Seara, in A Bola

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