"A ideia de que o ministro das Finanças poderia ter recebido vantagem indevida do Benfica - com um convite para ver um jogo no Estádio da Luz em troca da isenção de IMI para um prédio dos filhos do presidente encarnado - é estúpida. Em primeiro lugar porque ir ao futebol por convite para lugares que não estão à venda, como é o caso da tribuna presidencial, é a única forma de aceder a esses locais. Para ir ao estádio do seu clube, Mário Centeno nem precisa de convite porque é sócio do Benfica com lugar cativo, mas enquanto é ministro, por uma questão de segurança, não pode fazer o que lhe apetece. Em segundo lugar porque a isenção de IMI atribuída àquele prédio está prevista na lei e é decidida pelas câmaras municipais.
Pode ser que exista outro caso qualquer a requerer a atenção do Ministério Público, mas, se o caso é este, então quem tem de se explicar é a Procuradoria. Sabemos como costuma ser feita a recolha de prova, é uma pesca de arrasto que leva tudo o que encontra pela frente. Por causa disto, há agora quem tenha na sua posse todas as comunicações electrónicas do ministro das Finanças?
O que este caso nos mostra é a razão por que há cada vez menos gente disponível para ir para a política. Uma justiça que não faz distinção entre o que verdadeiramente importa e o que é polémica para alimentar debate político e páginas de jornais não procura fazer justiça. De igual forma, a comunicação social que não faz esta distinção não está a informar, está a entreter. É preciso parar para pensar. A política e a justiça não podem ser uma espécie de Porto-Benfica, um duelo entre claques. Por exemplo, escrevendo o que estou a escrever não estou a defender a política financeira de Centeno, estou apenas a dizer que o caso é estúpido. E é tão estúpido que já está a prejudicar-nos a todos, porque Centeno também é presidente do Eurogrupo. Se nós, justiça e jornalismo em Portugal, levamos a sério o que sabemos não ter importância nenhuma, é normal que os outros possam pensar que o presidente do Eurogrupo está metido em sarilhos sérios. Tem muitos séculos: há nos confins da Ibéria um povo que não se governa nem se deixa governar..."
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