"O futebol do Benfica está oficialmente em crise. Três jogos sem vencer do tetracampeão nacional sublinharam os sinais dos primeiros encontros. Há muitas formas de se tirar a radiografia da crise mais, em minha opinião, os maus resultados conjunturais dos encarnados devem-se a um dilema estrutural. Luís Filipe Vieira anunciou há um par de anos que a formação seria a principal aposta do clube e o acento tónico seria colocado na redução do serviço da dívida. Alterou-se o paradigma,saiu Jorge Jesus, entrou Rui Vitória e os resultados positivos continuaram. Vitória aproveitou desportivamente jogadores saídos das camadas jovens e da equipa B ou que por lá tinham passado como Ederson, Nélson Semedo, Lindelof, Renato Sanches e Gonçalo Guedes e Vieira aproveitou-os financeiramente. Entraram muitos milhões, saiu imensa qualidade. Após a apresentação do relatório e contas de 2016/17, o homem forte das finanças, Domingos Soares de Oliveira, reafirmou que o caminho da redução era irreversível. Mas o Benfica, pela sua grandeza e pelo historial recente, está obrigado ganhar. Ou, pelo menos, a lutar por isso. No entanto, nem todos os ciclos geracionais da formação são iguais. Em palavras mais simples, nem sempre saem das camadas jovens muitos jogadores de qualidade em simultâneo. E é preciso saber prever isso. Pelo menos, tentar. Quando os milhões não são assim tantos, é preciso scouting, ou em terminologia mais antiga, prospecção. Para já, parece que falhou e sem recurso ao mercado não parece que a equipa melhore. E o dilema é que, mesmo estando bem balizado o objectivo de redução de dívida, o Benfica nunca pode assumir baixar as armas.
No entanto, também é preciso dizer que mesmo não dispondo de tanta qualidade como em anos anteriores, exigia-se mais ao Benfica sobretudo ao nível do - palavra muito em voga - processo. Ou seja, no futebol exibido. E aí não há dilema, o réu é Rui Vitória."
Hugo Forte, in A Bola
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