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quinta-feira, 25 de maio de 2017

Benfica: a Razão e a Fé

"Tive a sorte de ter merecido a curiosidade de alguns dirigentes desportivos e treinadores, mormente de futebol. E dirigentes e treinadores de quem não é fácil esboçar o perfil, porque pessoas de riquíssima personalidade, digo mesmo: pessoas que desenvolveram uma actividade inconfundível, fecundíssima, como “agentes do desporto”, tanto a nível nacional como internacional. Tive a sorte, portanto, de ter bons mestres, neste “fenómeno cultural de maior magia no mundo contemporâneo”, que é o futebol.
Hoje, ainda não deixei de estudar e dialogar, com Mestres do treino desportivo e, porque muito quero aprender, “só sei que nada sei”. Deixam-me perplexas tantas pessoas que nada estudando ou nada praticando, no que ao Desporto diz respeito – mesmo assim, julgam que sabem!... No entanto, porque há treinadores de muitíssimo bom nível técnico (e não só no futebol – e não só em Portugal) que não deixam, hoje ainda, de distinguir-me com o muito que me ensinam, atrevo-me a escrever que, tanto um dirigente, como um treinador, de excelência, são, sobre o mais, líderes. Trabalhei um ano no departamento de futebol do Sport Lisboa e Benfica e rapidamente entendi (como já há muitos anos o fizera, perdoem-me a imodéstia, em relação a Jorge Nuno Pinto da Costa e José Maria Pedroto) que, no Benfica dos nossos dias, há um líder que “lidera” toda a vida do seu Clube e, porque “um homem só não vale nada”, com grande rigor e helénica serenidade, escolhe os seus mais próximos colaboradores… a quem dá tudo, para exigir tudo! É verdade que, da quente luminosidade das suas imagens, do ardor da sua emoção, dos seus incitamentos a um Benfica glorioso e imortal, parece emergir mais Fé do que Razão, mais Paixão do que Inteligência, menos Cultura do que Natureza. Todavia, se conseguirmos ultrapassar as aparências, Luís Filipe Vieira organizou, com tal minúcia e solidez, o seu Clube, que é hoje tanto o presidente do Benfica, como o “gestor de conhecimentos” de um Benfica pós-capitalista.
Como Pinto da Costa, com José Maria Pedroto (e relembro ainda o treinador Artur Jorge), que ergueram um “corte epistemológico” no seio do futebol pré-capitalista português, assim também Luís Filipe Vieira, com Rui Vitória (e outros treinadores e dirigentes, não devo esquecê-lo) não escondem o anseio de um “corte epistemológico”, para que o Benfica, com o necessário élan clubista, ingresse na Sociedade do Conhecimento. É com olímpico à vontade que toco neste assunto. Não sou benfiquista, sou azul de cruz ao peito! Nasci Belenenses e hei-de morrer Belenenses. Não tenho segundo Clube. Quem tem dois clubes, não ama suficientemente nenhum deles. Fernando Urbano n’A Bola, de 2017/5/14, empolgou-se ao escrever: “Noite histórica, ontem, para o Benfica, ao conquistar, pela primeira vez, um tetra campeonato, proeza que apenas os rivais FC Porto (por duas vezes) e Sporting haviam conseguido alcançar, no futebol português. Um domínio interno que encontra paralelo apenas no que Juventus (prepara-se para o hexa, em Itália) e Bayern (é penta, na Alemanha) estão a fazer, nos principais campeonatos europeus. Foi o 36.º título, o dobro do que o velho rival Sporting conseguiu, registo que ajuda a perceber a dimensão da empreitada, levada a cabo por Vitória e seus jogadores. Com o Estádio da Luz repleto (64591 espectadores é a maior assistência de sempre) os encarnados fizeram, diante do V. Guimarães, provavelmente a melhor exibição da temporada”. Luís Filipe Vieira, de coração entre os lábios, não resistiu a dizer: “Foi a maior alegria da minha vida”. Porque o Benfica ganhou mais um campeonato? Eu vou além da matemática dos números: Luís Filipe Vieira sentira que refundara o seu Clube, com base no que é importante nas organizações do século XXI: o conhecimento!
No dia 12 de Maio de 2017, o Papa Francisco peregrinou até Fátima, onde proclamou, “urbi et orbi”, que dois pastorinhos, Jacinta e Francisco Marto, foram canonizados, são dois santos da Igreja Católica. A propósito, o Papa Francisco declarou em Fátima, com aquela clareza e simplicidade que emanam das suas prédicas, que a Virgem Maria não foi a Fátima, “para que a víssemos, para isso teremos a eternidade inteira (…). Veio para advertir para o risco do inferno de uma vida sem Deus”. E disse ainda: “sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do carinho. Com efeito (continuou o Papa) a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam de maltratar os outros, para se sentirem importantes”. Foi Jesus quem nos ensinou: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. É que os “ricos de espírito” são os que se julgam, em todas as circunstâncias, omniscientes; são os invejosos, os que sofrem com os êxitos do seu semelhante; são os que vivem apegados aos postulados dos seus credos, incapazes de aprenderem no arsenal de conhecimento dos seus adversários; são os que, com pimpante impertinência, julgam possuir a última palavra, ou melhor: a síntese de qualquer dialética. Pobres de espírito são os que sabem que sabem pouco e, por isso, estudam muito; são os que, gentilíssimos de raiz, questionam, com humildade, quem pratica (no desporto, os seus agentes) e, por isso, tem as condições ideais para um melhor conhecimento da realidade; são os que, na nossa Sociedade do Conhecimento, desconfiam da facilidade, do empirismo, do improviso. Pobres de espírito são os que, como o Papa Francisco, decidem viver “pobres de meios e ricos no Amor”. Porque só assim se constrói a Justiça e a Paz…
No nosso futebol, que é berço de campeões europeus e portanto de treinadores e dirigentes e jogadores, que não temem cotejo com o que, nesta área, de melhor o mundo tem, deveria escutar-se, para além do clubismo faccioso que o povoa, a mensagem do Papa Francisco. Recordo o Dostoievski de Os Irmãos Karamazov: “A abelha conhece a fórmula do seu alvéolo, a formiga conhece a fórmula do seu formigueiro e o ser humano infelizmente ainda não conhece a fórmula da sua felicidade”. Finda a Segunda Grande Guerra, o governo dos USA convidaram W. Churchill a uma viagem triunfal, pelo seu trabalho inigualável, em defesa dos valores da nossa civilização. Ao visitar o Massachussetts Institute of Technology (MIT), o director desta instituição, cujo prestígio atravessa o mundo, proferiu um extenso discurso de exaltação de uma nascitura tecnologia que se preparava para formar cidadãos perfeitos, bem diferentes de Adolfo Hitler. Churchill levantou-se e, pausadamente, respondeu ao director do MIT: “Só com tecnologia e tecnocracia não faremos nunca o Homem Novo. Que Deus me leve deste mundo, antes de tal acontecer”.
Tenho a certeza que a revolução, ao nível do conhecimento, que se processa, actualmente, no Sport Lisboa e Benfica, por força da vontade e da perspicácia de Luís Filipe Vieira, é também pensada e realizada para além do tecnocientífico. Porque ele, sem motivo para dúvidas, é o primeiro entre todos os presidentes da História do Benfica, será também o primeiro a assumir uma ética aplicada ao desporto, que não significa endoutrinamento, ou ingenuidade bem próxima da patetice mas, pelo contrário, vontade de resolver sempre os problemas tecnocientíficos do futebol (do desporto) visando o humano em plenitude. Demais, o Rui Vitória, se bem o entendo nas suas declarações públicas, é homem de Ciência e Consciência, de Razão e de Fé. É o companheiro ideal de Luís Filipe Vieira para uma aceitação esclarecida do Benfica que se anuncia."

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