"O clima de excessiva agressividade, até de violência, que se vive no futebol em Portugal, principalmente entre os clubes de maior dimensão, teve no último fim de semana um dos dias mais negros. Nada que não fosse previsível ou sem aviso, infelizmente nunca levado suficientemente a sério. Não se trata de falta de fair-play. Trata-se ter ou não coragem para tomar medidas preventivas e punitivas, que acabem com esta violência gratuita. A começar pela verbal.
Os regulamentos desportivos são por vezes pouco precisos, ou melhor, têm aberturas para diversos recursos. Tal como todo o enquadramento jurídico português. Quando todos os recursos se esgotam levanta-se a constitucionalidade das normas. Temos estado a aumentar a complexidade para a aplicação de regras simples. Tornou-se hábito o recurso do recurso. Vivemos num Estado de direito, princípios fundamentais têm que se assegurados, o que não significa que a Lei e a sua aplicação tenham tantos alçapões. O bom sendo deve imperar para que se criem e apliquem regras eficazes. Como é possível em determinados estádios considerar-se normal a agressividade manifestada para com os elementos da equipa visitante? Até alguns agentes desportivos permitem essa agressividade por não serem castigados ou castigados tão tardiamente.
Mas não são só os agentes do futebol que devem ser responsabilizados. A batalha pelas audiências estabelecida entre os diversos órgãos de comunicação, com destaque para alguns canais por cabo, com um grande número de programas sobre um campeonato limitado a Benfica, Porto e Sporting, também tem ajudado a aumentar esta animosidade entre adeptos. Não se trata de analisar e comentar um jogo de futebol, trata-se de insultar quem não está de acordo. Claro que há quem não tenha esta postura, felizmente. Como em tudo, a maioria é silenciosa. Está na hora dessa maioria exigir mudanças, de se manifestar contra este estado de coisas. É um dever de cidadania que todos deveríamos assumir."
José Couceiro, in A Bola
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