"Um dos meus avós vivia numa quinta, depois de Coruche, encostada ao Couço, tida como a freguesia mais 'vermelha' de Portugal, graças aos resultados em quase todas as eleições. E sei que também tinha muitos Benfiquistas. Um verão passei lá umas férias. Eu devia ter uns 15 ou 16 anos e ouvíamos o relato da Volta a Portugal em bicicleta pela Antena 1. O campeonato estava parado, mas havia sempre ciclismo para nos entreter. Nas poucas conversas que tínhamos, o velho Cancela ensinou-me uma das lições que a vida feita de trabalho na terra nos dá: 'Para quê invejares o que o vizinho tem, se não fazes nada com o teu quinhão de terreno'. Todos os dias, às seis da manhã, ele levantava-se, ia dar de comer aos animais, abrir regos para a água passar para a horta e para o pomar, tratava de arranjar lenha, inventava enxertos para as laranjeiras e sacava os ovos às galinhas. Tinha as melhores laranjas da região e um orgulho imenso nelas.
Olho para o nosso campeonato e para a realidade das duas equipas que lutam para ser o primeiro dos últimos e revejo-me nesse verão, quando começou a primeira Guerra do Golfo. FC Porto como Sporting CP só se preocupam com aquilo que brota da nossa terra. Invejam as nossas laranjas, o nosso departamento de comunicação, as nossas vitórias, o nosso marketing, os ovos de ouro das nossas galinhas. Socorrendo-me do pouco de agricultura que aprendi, parece-me que, tanto os vizinhos próximos como os mais afastados, só têm uma solução: manter-se no pousio por mais uns anos e trabalhar de forma mais árdua. Ou então, fazer uma queimada no terreno e rezar para que chova."
Ricardo Santos, in O Benfica
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