Últimas indefectivações

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

A sorte (e não só)

"No rescaldo da Luz, a primeira coisa que ouvi, ouvindo-a num tom ressequido, ressequido e amargo, foi:
- É verdade, o Benfica ganhou ao Dortmund, mas levou um banho de bola...
Exagero, claro - e não foi só esse exagero que me levou a pensar no Mujammad Ali, no Ali ter dito:
- Não são as montanhas à nossa frente que nos cansam ou que nos vencem, o que nos cansa e o que nos vence é a pedra que vai no nosso sapato...
Sim: o Benfica não se cansou e venceu porque fez o seu jogo (mesmo quando andou entre o susto e o negrume...) sem que se vissem os seus jogadores a jogá-lo de pedras nos sapatos.
Outra coisa que ouvi, ouvindo-a num tom displicente, displicente e ressabiado:
- ... Rui Vitória levou do Thomas Tuchel um banho de táctica ainda maior...
Disparate, claro - e não foi só esse disparate que me levou a pensar no Alex Ferguson, no Ferguson ter dito:
- Não se é capaz de construir uma grande equipa com almas irrequietas...
Sim: perante esse Dortmund que é uma trituradora máquina de ataque, nunca se viram, no Benfica, almas irrequietas - e se isso é mérito dos jogadores que as não têm, mais mérito é do treinador que é capaz de fazer o que faz dos jogadores.
Outra coisa ouvi, ouvindo-o num tom oblíquo, obliquo e farisaico:
- O resultado é ridículo. Jogámos muito bem, fizemos grande exibição...
Engano, claro - porque ninguém joga bem perdendo como o Borussia perdeu, ninguém joga bem falhando o que o Borussia falhou. E não, não foi só esse engano que me levou a pensar no Jorge Valdano, no Valdano ter dito:
- No futebol ou se luta ou não se luta - e muito pior do que não se utar é um jogador colocar a agressividade errada no sítio errado... porque o que o Benfica fez foi colocar a agressividade certa no sítio certo - tendo debaixo da sua baliza duas mãos de um deus qualquer. Foi sorte? Sim, foi - foi a sorte do ponto onde a competência se encontrou com a oportunidade..."

António Simões, in A Bola

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