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quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

«...duradoura liberdade com justiça...»; para alicerçar a magia e a ética

"Achámos oportuno extrair esta passagem : "...duradoura liberdade com justiça...", da declaração do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a propósito da evocação da vida e obra de Mário Soares, minutos após a divulgação do seu falecimento - paz à sua alma -, por muitos considerado o pai da democracia.
Oportuno, face aos recentes acontecimentos que abalaram o futebol português, a viver um dos momentos mais conturbados da sua existência, quase se declarando um estado de emergência, tal a gravidade da situação, com ameaças a árbitros e dirigentes.
Acontecimentos que levaram a que o Conselho de Arbitragem da FPF tivesse convocado uma reunião com carácter de urgência - qual incêndio prestes a deflagrar...-, e que motivou a que o Secretário de Estado do Desporto e da Juventude se expressasse, em comunicado, que : "confiava plenamente nas entidades competentes como a FPF e a Liga", apelando ainda ao fair-play de todos – que, na prática, deverá corresponder à amostragem do cartão branco. Sem delongas, nem pretendermos particularizar este ou aquele (grave) incidente, a patologia, este mal endémico do nosso futebol (do pseudo alto rendimento), necessita urgentemente de ser tratada.
E tratada, com : "...duradoura liberdade com justiça...", a servir de alicerce para a reconhecida magia e para a desejável ética, entendendo-se que o futebol dos nossos dias de há muito deixou de ser desporto, tendo-se transformado num dos maiores negócios do mundo.
E esse um dos maiores negócios do mundo, enquanto serviço/produto, no palco das emoções em que, vezes quantas - como agora sucedeu -, em lugar da duradoura liberdade (de expressão, corporal e intelectual), enquanto direito inalienável, dá origem a que se extremem situações que conduzem a um certo caos e irracionalidade.
Razão pela, qual os clubes portadores dessa patologia, desse mal endémico, cada vez se afastam mais de uma função sócio-desportiva, de que deveria resultar, com uma visão alargada e com conceitos inovadores, uma prática com base num planeamento, que estabelecesse uma estratégia, na via de criar e desenvolver uma determinada identidade. Só que, desgraçada e infeliz constatação, os clubes, sobretudo os denominados "grandes", - os que têm, obviamente mais potencial e, portanto, maior apetência - estão na mão dos grandes interesses e é muito difícil "democratizar a democracia" (Anthony Giddens).
Talvez que importe referir e interiorizar que neste estado de "coisas", o desporto, este futebol (do pseudo alto rendimento), com mais ou menos claques organizadas, não educa, não constitui uma prática saudável e em nada contribui para o adquirir da tal consciência, da reclamada justiça de que tanto se apregoa, afinal. Como resultante da duradoura liberdade. Uma consciência, responsável e responsabilizante, que nos pudesse conduzir à observância de que não valerá tudo, a pretexto do lucro selvagem que tantas vezes caracteriza esta aldeia global, em grande parte mobilizada e (des) aproveitada pela futebolização vigente.
E de sublinhar, tal como de há muito se expressa mestre - porque sábio ! - Manuel Sérgio : "Venho acentuando, ao longo de grande parte da minha vida, que já não é curta, que o desporto reproduz e multiplica as taras da sociedade capitalista. E deveria ser contra-poder ao poder das taras dominantes. Não condeno o espectáculo desportivo. Mas gostaria de vê-lo ao lado de todos aqueles que lutam por um mundo novo". Reclamar-se-á, no combate a este estado de "coisas" um discurso e uma prática dos dirigentes desportivos que fosse emancipador, democrático e democratizante, oferecendo um salutar exemplo à geração que hoje desponta. Geração que, legitimamente, esperará de nós, adultos, que não nos movamos num qualquer projecto desprovido de conteúdo, de princípios e de valores.
Talvez que, assim, a funcionar como alicerce para a magia - porque o é inegavelmente, enquanto fenómeno de grande impacto - e para a ética - conjunto de coisas que fazemos e atitudes que tomamos com "todo o mundo" a nos observar. E ainda a ética, no desporto e no futebol, a servir de elo de ligação com a vida. Ter-se bem presente, sem extremar posições, que a existência inteira se manifesta no quadro do sucesso e do fracasso, de que é possível ganhar e perder, não descurando nunca os valores que devem fazer do desporto, e do futebol em particular, o fenómeno de maior magia e espetacularidade do mundo contemporâneo. Daí que : "...duradoura liberdade com justiça..."; para alicerçar a magia e a ética.
O desporto, o futebol, se e com toda a sua autenticidade, pode-se constituir no nosso ídolo. Ídolo, apesar de tudo? Sim, ídolo, se se arrepiar caminho, e enquanto puder ensinar, sendo !"

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