"O recente triunfo frente à Académica não foi apenas um triunfo, foi uma lição, uma lição triunfal.
O Benfica poderia ter jogado mais? Talvez pudesse, pelo menos a espaços. A Académica poderia ter querido jogar? Talvez pudesse, pelo menos a espaços. O Benfica jogou, nem sempre bem, a Académica não jogou, quase sempre bem. O Benfica ganhou na justiça do último minuto, premiada a sua ambição.
A Académica perdeu na desforra do último minuto, castigada a sua limitação.
O embate foi mesmo um ensinamento. Não existe Campeão, vem em todos os manuais da coisa, que não seja sempre Campeão do sofrimento. O despique da Luz chegou a ser exasperante, com uma equipa inteira atrás da linha da bola. À medida que a competição se aproxima da fase decisória, situações destas tendem a repetir-se. Um ponto, será a ambição gigante de alguns adversários. Um golo, um mero golo, será a ambição mínima do Benfica.
As bancadas da Luz também deram uma lição. Nos dias que correm, com o sustento de um futebol ofensivo de grande qualidade, os adeptos não anseiam por golos, têm nos golos a certeza da razão do futebol atacante da equipa. Só que um ou mais golos não são fáceis de obter perante antagonistas que se dedicam, tempo inteiro, a preencher apenas trinta metros do relvado. O que fizeram os correlegionários vermelhos? Ainda que dando mostras de inusitada ansiedade, jamais deixaram de apoiar o colectivo até ao apito final.
O Benfica recuperou a urgência da vitória, o imperativo da vitória, o charme da vitória. Os sócios e simpatizantes cultivam o apego, a teimosia, o afecto. E não são também as razões subjectivas que espicaçam as razões objectivas na direcção do êxito? Na direcção do Benfica Campeão?"
João Malheiro, in O Benfica
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