"A teia em redor do caso-Cardinal é ainda demasiado densa para permitir opiniões fundamentadas, além de que, tratando-se de um caso de justiça, é a ela que cabe apurar as culpas. Foi tentativa de suborno? Foi uma cilada mal montada? Não sei. Devo dizer que, não havendo condenações para casos anteriores, e desconfiando quando baste da espécie humana, acho natural que este tipo de situações voltem a suceder em Portugal. E puxando pelo baú das recordações, também não tenho pena de qualquer um dos intervenientes. Mas não os posso, obviamente, acusar de nada.
O problema que trago coloca-se num plano mais lateral, e tem a ver com o poder que os árbitros-assistentes têm no Futebol, o qual não encontra paralelo no semi-obscurantismo mediático em que vivem. Quando as coisas correm mal, lançam-se culpas ao árbitro principal, esquecendo-se que nem sempre reside aí a causa primeira do erro. Os outros, os assistentes, são ignorados, como se fossem autómatos, como se não tivessem vontade própria, como se não tivessem interesses, preferências ou problemas matrimoniais, como se fossem... uma simples bandeira colorida.
Ficou para a história o célebre golo de Petit a Vítor Baía, que Olegário Benquerença não sancionou. Olegário Benquerença, disse eu? Disse mal, efectivamente, por muitas más arbitragens com que esse senhor nos tenha brindado, nessa ocasião a culpa não foi dele, mas sim do assistente (ou auxiliar, ou fiscal-de-linha, ou liner, ou bandeirinha, ou lá como se chamava na altura). Ainda recentemente, Pedro Proença validou um golo ilegal do FC Porto no nosso estádio. Pedro Proença, disse eu? Disse mal, pois o árbitro principal jamais seria possível ver o lance em boas condições. Luís Tavares e Ricardo Santos passaram assim por entre os pingos da chuva de dois dos mais negros momentos da arbitragem portuguesa nos últimos anos (não por acaso favorecendo ambos o FC Porto).
É esta questão que o caso-Cardinal também puxa, com estrondo, para a agenda mediática do Futebol português."
Luís Fialho, in O Benfica
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