"Dizia Miguel Torga que a lucidez é um acto ímpar. Pedir lucidez nas emoções do futebol é, nos tempos que correm, quase um acto de desespero.
Nestes tempos agitados é fácil resvalar para o absurdo e para a irracionalidade. Terminada que foi mais uma final da Taça da Liga, conquistada que foi a quarta Taça da Liga consecutiva, chegou a ser absurdo observar como uma franja de adeptos escrutinava atentamente o grau de entusiasmo dos outros adeptos e dos próprios futebolistas. Diga-se que algo de semelhante já se verificara na época passada. Ou seja, há adeptos que consideram que não é legítimo mostrar satisfação pela conquista de um troféu, que não era prioritário, quando se hipotecaram as possibilidades de conquistar as competições que eram prioritárias. Obviamente que esta Taça da Liga não nos mata a sede de vitórias nem a fome de glória. Obviamente que esta Taça da Liga não é tapete debaixo do qual se possa esconder o que de errado se fez esta época. Obviamente que não é este troféu que nos faz festejar em uníssono no Marquês ou vitoriar os nossos atletas no nosso Estádio. Mas também me parece óbvio que a sua conquista é motivo de satisfação e de entusiasmo. Foi vencido com mérito, esforço e de forma limpa. É natural que adeptos e futebolistas se mostrem satisfeitos com essa vitória. O que já não é natural é confundir o entusiasmo do adepto com falta de exigência ou acomodação. O que não é natural é ver benfiquistas de uma vida inteira e longa, feita de sacrifícios e dádiva ao clube, a serem questionados e ofendidos porque, na opinião de uns quantos, há vitórias que se podem festejar com entusiasmo e outras que se devem lamentar com pesar e indignação. Não, não convivo pacificamente com a ideia de que ande alguém de ‘entusiasmómetro’ em punho a ofender benfiquistas que aplaudem com entusiasmo o clube depois de ter conquistado uma vitória numa final.
Não se vive no momento da vitória como se vive no momento da derrota, por isso mesmo é tão importante saber perder como saber ganhar. É uma questão de lucidez."
Pedro F. Ferreira, in O Benfica
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