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sexta-feira, 21 de junho de 2024

Portugal a várias dimensões


"O arranque foi frouxo e a seleção de Martinez não só pode fazer melhor como tem mesmo de fazer melhor. No momento ofensivo falta ligação ao ataque e mais presença na área, e no defensivo a desorganização tem sido maior do que se nota, por força - neste caso fraqueza - dos adversários. Com a Turquia será diferente, que a seleção comandada por Montella também não é fiável atrás, mas é muito mais perigosa e criativa na linha da frente do que todos os rivais recentes de Portugal, Croácia incluída. Foi essencial ganhar – porque ficar em primeiro permite evitar a França nos oitavos – e vencer assim, ao cair do pano, ajuda à crença coletiva, mas é preciso mesmo perceber que nem tudo está bem quando acaba bem. E não está.
É discutível a escolha do onze e mais ainda a estrutura tática eleita para defrontar a Chéquia, particularmente por se tratar de uma abordagem nunca antes ensaiada em jogo. Por isso, também era difícil que tivesse resultado melhor. Já as escolhas dos jogadores, a partir dessa base tática definida, são perfeitamente compreensíveis. E há uma certeza que nos consola: quem tem de recurso Diogo Jota, Pedro Neto e Francisco Conceição, mais João Félix, Gonçalo Ramos, João Neves ou Matheus Nunes, só pode mesmo correr o risco de ser feliz. Até quando recorre a essas alternativas demasiado tarde, como foi o caso.
Posso ser desmentido hoje mesmo, mas creio que não se percebeu ainda o potencial coletivo desta Itália. Não tem os génios de outros tempos – saudades de Baggio, sempre, e de Mancini, Zola ou del Piero – mas tem craques competitivos em todas as zonas do campo. Vai ter o teste do algodão frente a uma Espanha que do meio campo para a frente agrupa talento. Atrás é outra a conversa, que os centrais não são de topo e o guarda-redes, embora magnífico os entre postes, não surge como o mais eficaz no controlo da profundidade. Vai perceber-se melhor o que valem mais esses coletivos latinos. Do outro, a França, não há dúvidas, se não é o principal favorito é um dos dois principais, a par da Alemanha. A equipa da casa tem sido a mais completa, a mais equilibrada nos vários momentos e até a mais eficaz na definição. Se tivesse de apostar numa só equipa para ganhar a prova era na Alemanha. Mas nestes campeonatos sem margem de erro, que os jogos são poucos e não tarde a eliminar, já todos vimos mudar quase tudo em pouco tempo.
Perdem-se horas a discutir as (mesmo que pequenas) alterações às leis do jogo e quanto ao modo de lhe aumentar o tempo útil. Perdem-se mesmo esse tempo e este Europeu está a demonstrar que tudo está resolvido a montante se houver autoridade e competência: 1. Os árbitros apitam quando é forçoso e não a toda a hora (ao contrário do que sucede em Portugal); 2. Os jogadores não passam o tempo a simular faltas sofridas (ao contrário de Portugal); 3. Os bancos dos staffs não se indignam permanentemente com a decisão mai óbvia do árbitro (ao contrário de Portugal); 4. O VAR só surge quando é mesmo necessário, sem que se viva a obsessão de reclamar a todo o momento mais penaltis e expulsões (ao contrário de Portugal); 5. As compensações são razoáveis, em redor dos 5 minutos, e não com variações incompreensíveis (ao contrário de Portugal). Consequência: temos um Europeu quase sem casos, em que cada partida parece que passa a correr. Ao contrário do que acontece tantas vezes em Portugal.

PS: Em Portugal passou com referências mínimas a contratação de Paulo Fonseca pelo Milan, um dos mais históricos clubes do mundo. Outro fosse o nome lusitano eleito pelos italianos e seriam várias capas de jornais e horas de debate televisivo. O homem que levou o Paços de Ferreira à Champions, que ganhou uma taça em Braga, que foi tricampeão na Ucrânia, muito competente na Roma e quase brilhante no Lille bem que justificava mais reconhecimento e atenção."

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