"Mas o “Zé” é também aquele português típico que aos 17 anos dizia que o seu progenitor “não sabia nada”, ele é que sabia tudo, que aos 35 de idade, e perante uma decisão importante a tomar, diria “que antes de decidir terá que pedir conselho ao seu pai”, e que aos 65, se confrontado com um dilema, dirá “que pena o meu pai já ter morrido”…
O “Zé” representa, hoje, aquele jovem típico português que frequenta a escolaridade obrigatória com um certo ar de turista que está de passagem, vestido como se estivesse preparado para ir a um passeio pelo campo, ou para ir para a praia (no Verão), sem as abluções matinais efectuadas, e por isso sempre pronto para interromper, a qualquer momento, uma qualquer exposição “chata” que qualquer professor se atreve a fazer logo pela manhã.
O “Zé” é aquele português típico que, após o “25 de Abril”, criticou o pai por ter participado na “Guerra Colonial”, e considera o fim do “Serviço Militar Obrigatório” uma medida “democrática”, de grande visão, sem ser capaz de dizer como será, no futuro, e o que fará o país, em caso de necessidade, para a sua própria defesa.
O “Zé” é aquele português que se sente “livre” por poder dizer o que lhe apetece, por falar, em público, com palavrões, sem nada lhe acontecer, por poder quase fazer sexo na via pública sem ninguém o incomodar, e ainda por poder cuspir no chão de qualquer rua, sem perceber o que acabou de fazer. O “Zé” é aquele português que exige da família dinheiro para que ele possa ir ao café, à discoteca, aos concertos de música pop, rock, etc., para o bilhar, cinema e, quiçá, para a moto.
O “Zé” de Portugal cresceu, talvez não se tenha desenvolvido quanto podia, pois não aproveitou as oportunidades que lhe foram dadas, o “Zé” que tudo queria, que exigia tudo, e a todos, o “Zé” começa a perceber que afinal o “sistema” que ele criticava, sem sequer o perceber, não era mau, o que foi mau foi a destruturação da sua família, a rua ser a sua sala de convívio, e o lazer a sua principal ocupação. Faltou-lhe “apoio”, o suporte familiar, mão amiga e experiente e teve também a indiferença de algumas instituições que, por vezes, se demitem das suas “obrigações”.
Mas o “Zé” descobre que não consegue ter uma vida autónoma, que namora sem qualquer perspectiva de futuro, que não consegue um emprego, que afinal desperdiçou todas as oportunidades que tem que viver das “esmolas” que lhe quiserem dar… Mas o “Zé” é também aquele português típico que aos 17 anos dizia que o seu progenitor “não sabia nada”, ele é que sabia tudo, que aos 35 de idade, e perante uma decisão importante a tomar, diria “que antes de decidir terá que pedir conselho ao seu pai”, e que aos 65, se confrontado com um dilema, dirá “que pena o meu pai já ter morrido”… O “Zé mudou e com ele o seu destino. O “Zé” teve a sorte de encontrar um sério e decisivo apoio de um clube desportivo, um grande e “glorioso” clube, que o ajudou de forma decisiva, inclusive pagando-lhe os estudos até entrar no Ensino Superior.
Este “Zé”, igual a tantos outros, existem e esta história foi-nos relatada pelo próprio, que ainda acrescentou a grande dívida de gratidão para com esses dirigentes desportivos, homens bons, de clubes desportivos, instituições de utilidade pública, que inclusive através da prática do Desporto o demoveram de pôr termo à sua existência, sendo hoje um cidadão respeitado e útil à sociedade.
Aqui fica a homenagem ao trabalho social, cívico e educativo levado a cabo por muitos clubes desportivos, instituições de utilidade pública e, sobre tudo, a alguns dos seus dirigentes, autênticos pedagogos, no bom sentido do termo, que, por vezes, têm um trabalho altamente meritório, preferindo, no entanto, o anonimato. Bem hajam!"
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