"O que está mais falida, a SAD portista ou uma certa e velha forma de estar?
Há muito poucos meses, voltou o presidente do FC Porto a afirmar, se bem se lembram, que «o nosso inimigo não está aqui, o nosso inimigo, não sei bem agora contar, mas está a uns 300 quilómetros», e disse-o (ou escreveu-o), ainda antes de se concluir o último campeonato, num permanente e continuado desplante que nenhuma autoridade desportiva do País ousa punir, como se esta cultura de ódio não tivesse qualquer importância no universo do desporto e do futebol português em particular.
Nunca é demais lembrar que o presidente do FC Porto é, ao mesmo tempo, presidente da sociedade anónima desportiva do FC Porto, cotada em bolsa e escrutinada pelos reguladores do Estado, e devia ter, evidentemente (mas não tem, como se tem visto) o sentido de responsabilidade próprio de quem comanda um dos principais competidores do futebol profissional em Portugal.
Volto a questionar (que me desculpe o leitor, mas a persistência será, porventura, a única forma de combater pelo menos o tipo de linguagem e comportamento que deve ser definitivamente erradicado do ambiente promovido no futebol português) se as autoridades desportivas nacionais não julgarão grotesco que o presidente da SAD de um grande clube como é a SAD do FC Porto (que por ser um clube grande exige maiores responsabilidades) continue, volta e meia, a seu bel-prazer, a pronunciar-se publicamente com muito desrespeito pelo universo do futebol nacional, por adversários, outros dirigentes, por vezes árbitros e muitas vezes jornalistas.
Insisto, aliás, na ideia de estarmos perante um dirigente que tendo feito muito pelo seu clube (ainda que num tempo em que a ação dos dirigentes era pouco responsabilizada e se servia de práticas e sistemas pouco recomendáveis…), não me parece que tenha feito muito pelo todo do futebol e do desporto nacional em geral, na medida em que raramente o ouvimos promover publicamente o bom espírito das competições, preocupar-se verdadeiramente com a ética da prática e com a prática da ética, ou apresentar propostas que ajudem, por exemplo, a Liga portuguesa a ser melhor, ou mesmo as competições desportivas de muitas outras modalidades.
Bem pelo contrário, semeou muitas vezes (todos somos testemunhas) ventos e tempestades, sempre com o único objetivo de colher benefícios próprios, custasse o que custasse, sempre assente no velho e bafiento discurso do «contra tudo e contra todos».
Continua a preferir falar de inimigos.
Continua a preferir (num comportamento que temos vindo a testemunhar há décadas) acusar ou denegrir os outros, censurar ou depreciar quem eventualmente se lhe oponha ou critique, sejam os adversários no campo, sejam adversários fora dele.
Tudo isto a propósito de considerar o presidente do FC Porto (e de uma SAD técnica e seriamente falida como a SAD do FC Porto) estar o «inimigo», como irresponsavelmente lhe chama, «a 300 quilómetros» (do Porto, naturalmente) mas poder, desta vez, estar olimpicamente a esquecer-se ou propositadamente a ignorar que o principal ‘inimigo’ poderá andar, afinal, a rondar os corredores da própria casa, de acordo com as fortes críticas vindas do universo azul e branco à gestão portista ou as movimentações cada vez mais indisfarçáveis (por exemplo do candidato a candidato André Villas-Boas) perante o aproximar (já no próximo ano) de novo ato eleitoral para a presidência do clube.
Não sei, aliás, o que está mais falida, se tecnicamente a SAD azul e branca, se uma certa ideia de ver o País, o futebol e o desporto a que há anos nos habituou o líder do FC Porto, que muito poucos, ao longo dos tempos, tiveram realmente coragem de contestar.
Por mais espetáculo que o presidente portista ainda esta semana tenha querido dar na sessão do julgamento que o opõe ao candidato às últimas eleições portistas, Nuno Lobo, contra o qual o líder do FC Porto interpôs ação judicial, acusando-o de difamação (alegadamente, segundo o presidente dos dragões, por ter questionado a sua seriedade), é impossível que as contas da SAD apresentadas há precisamente uma semana (com o terceiro maior prejuízo de sempre e uma falência técnica há muito anunciada pelas dezenas de milhões de euros de capitais próprios negativos...) não preocupem os mais sensatos adeptos azuis e brancos e os façam temer por novo confronto com o fair-play financeiro da UEFA.
A afamada distribuição de prémios chorudos pelos administradores da SAD azul e branca, por mais regulamentados e aceites pelos acionistas, é apenas a cereja no topo de um bolo em ruinas e só revela que nem o amor ao clube demove os responsáveis de receber tudo até ao último tostão por mais desastroso que seja o cenário financeiro da organização portista. Na verdade, sempre parece mais fácil assim… amar o FC Porto.
No FC Porto, a má gestão apontada a dedo por inúmeras figuras públicas do universo portista, continua, pelos vistos, a levar o líder a parecer, como diz a expressão popular, «tapar o sol com uma peneira». Para alguns, pode até ter piada a forma como o grande líder continua a lidar com a instabilidade e a fintar as preocupações e as dificuldades.
Ainda agora, na tal sessão do julgamento que o impediu, aliás, de marcar presença na Cimeira dos Presidentes promovida, como é hábito pela Liga, em resposta a uma questão da juíza sobre as críticas à alegada delapidação das contas do clube, o presidente portista terá respondido mais ou menos isto, pelos relatos vindos a público: «Não sei onde está o delapidar do clube. Desce que entrei em funções construiu-se um estádio novo, um pavilhão novo e temos um centro de treinos».
Sempre inteligente, eloquente e rigoroso o presidente portista, enfim, se ignorarmos o «centro de treinos» que é da Câmara Municipal de Gaia (pago pelos contribuintes) e pelo qual o FC Porto (apesar da promessa de construir um próprio) despende irrisório valor mensal para ‘fingir’ que é seu e usá-lo como se na verdade o fosse.
Bom, mas isso é apenas mais uma questão de pormenor!...
Vertonghen e Jorge Jesus
Mesmo sem mexer um dedo, Jorge Jesus de novo no centro de alguma atenção, não apenas pela lesão grave de Neymar, que é agora, como se sabe, seu jogador no Al Hilal (não foi Jorge Jesus até à seleção do Brasil, veio, de algum modo, a seleção do Brasil até Jorge Jesus…), mas sobretudo pelas muito interessantes declarações do internacional belga Jan Vertonghen (ainda titular da seleção do seu país) que foi jogador de Jesus no Benfica.
Confesso admirador do trabalho de Jesus, já não sei, com toda a franqueza, quantas opiniões mais serão precisas de jogadores a reconhecer a enorme qualidade dele como treinador para definitivamente a compreendermos. E, já agora, aceitar, no mínimo, que ele foi vítima - vale o que vale, mas é a minha franca opinião - da campanha mais dura, intolerante e agressiva que alguma vez vimos no futebol português contra um treinador, a propósito desta segunda passagem pelo Benfica.
Sempre me habituei a ouvir os chamados homens do futebol, os que andam lá dentro, conhecem os cheiros dos balneários e dos relvados, afirmar que podem os treinadores enganar eventualmente adeptos e jornalistas, mas que não conseguem enganar os jogadores.
Pois bem, ao longo dos anos, têm sido precisamente muitos dos jogadores treinados por Jorge Jesus a reconhecer terem, com ele, trabalhado com um treinador realmente diferenciado. Fazem referência ao comportamento de Jesus com o qual parece, na verdade, ser muitas vezes difícil de lidar, mas a maioria seguiu a linha agora assumida por Vertonghen (jogador tão elogiado por quem melhor o conhece e definido como um autêntico ‘príncipe do futebol’).
Vertonghen foi claro: «Nunca tive um treinador como ele!». E lamentou apenas (também pela barreira da língua) ter ficado com muitas perguntas por fazer a Jesus, Aposto que Vertonghen quer vir a ser treinador e tinha-lhe dado muito jeito aprender mais com o grande treinador que é, parece-me hoje cada vez mais indiscutível, o português Jorge Jesus.
Quanto a Neymar, Jesus deixou o aviso para ele ser gerido com pinças, mas Fernando Diniz (atual selecionador do Brasil) ainda criticou o português. Neymar rompeu mesmo e todos ficam a perder!"
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