"FUTEBOL - ÉPOCA 2023/24
Pré-época – 1ª Parte
Obs. Tendo em atenção um assunto de fundamental interesse no início da época desportiva e pelo facto de há 5 anos a esta parte ter tomado em linha de conta uma publicação nesta rúbrica em 3 artigos, embora sujeitos a significativas alterações, renovo a publicação, desejando a quem porventura tenha a oportunidade de neles refletir, as maiores e sinceras venturas.
Planeamento e Periodização do Treino e sua importância para o futuro de uma equipa na construção do sucesso!…
A definição genérica de treino, como uma forma básica de preparação do atleta através de exercícios no sentido de proporcionar ao organismo respostas às exigências físicas, técnicas, psicológicas, afetivas e sociais suficientemente capazes para a obtenção do êxito, ainda vigora em qualquer manual que o tempo conserva.
Constata-se no entanto que no âmbito da planificação duma época desportiva tem-se assistido a uma graduada evolução, quer ao nível das conceções, quer ao nível das operacionalizações das temáticas referentes às cargas de treino, não apenas em relação ao volume, como à intensidade, como à especificidade, recuperação, densidade etc…estabelecendo-se metodologias instrumentais para que o sucesso apareça e se prolongue no decorrer duma época desportiva.
Deste modo, qualquer trabalho que se destine à programação e planeamento tem que obedecer à avaliação das condições infraestruturais da prática e sua operacionalidade: Meio – material, potencial humano, capacidade socio- económica; Equipas técnica e médica, sua constituição e organigrama de funções a exercer; Atletas – dados pessoais, historial técnico, competitivo, desportivo e clínico; Calendário – treinos, jogos, competições; Seleção e Meios e Métodos de Treino – quais / quando / quanto / onde /como.; Definição do Modelo de Jogo – conceção de jogo; Condições de apoio departamental e logística, etc, tarefas sobre as quais jamais poderá ficar indiferente a qualidade crítica e reflexiva de todo um departamento que opera as premissas dos êxitos a conseguir, numa conduta de deveres para um julgamento de obrigações.
Em tempos que a memória não me atraiçoa havia um código referencial em que se periodizava uma época desportiva em 3 fases, geralmente agrupadas em 3 grandes períodos ou etapas:
1- Período preparatório, pré-competitivo ou aquisição da forma desportiva – correspondente ao tempo espaçado entre o início da época e o início oficial das competições.
2- Período competitivo ou fase de desenvolvimento da forma desportiva- correspondente à durabilidade das competições.
3- Período de transição ou fase de redução ou quebra temporária dos níveis de rendimento. - Correspondente ao tempo que intervala o final das competições e o início da nova época.
Dada a intervenção de um modelo “importado” (Matveiev), em que se privilegiava um conceito de forma desportiva baseado nos “picos” de forma, muito utilizado nos desportos individuais, as cargas de treino tinham uma orientação estruturada, isto é, o que interessava era que a equipa aparecesse em determinados momentos em “alta rodagem” para seguidamente baixar de forma cíclica o seu rendimento. À medida do tempo constituiu-se a necessidade de substituir esse modelo, pois no Futebol., mais importante do que os “picos” de forma, interessava os patamares de rendimento, ou seja a estabilização do rendimento como máxima garantia para resultados de nível superior. Assim e de forma progressiva viu-se a conceção tradicional evoluir para novas fenomenologias, como seja o treino integrado, ou seja numa interligação de treino por contraste, depois para a periodização tática, depois periodização complementar.
Percorri enquanto técnico de observação e qualificação do jogo e metodólogo de treino, desde 1981/82 até finais da década de 90 (V.S.C, F.C. Porto, S. C. Braga e novamente V.S.C.) todas as etapas correspondentes e com resultados (alguns deles que a história de sucesso jamais apagará). Contudo e a experiência me tem demonstrado, não há receitas onde se possa pesquisar as condições que resultem no êxito absoluto. Por isso, repugna-me o fenómeno de certos profetas que anunciam como verdade absoluta um dos conceitos, quando no Futebol, como na vida, algo de novo se anuncia após uma resposta adequada, pois “o conhecimento nasce da dúvida e alimenta-se na incerteza”. (Sérgio, M.) Se por vezes até vemos jogadores com participações excelentes no treino e no imediato com performances verdadeiramente chocantes nas competições que se lhe seguem, até parece que tudo foi desaprendido ou esquecido, … o que se pode dizer?!...
É que nada está absolutamente definido. O planeamento e programação do treino vê-se por isso enriquecido com esta questão da adaptação significativa de condições propícias para a obtenção do êxito.
São várias as ciências que “emprestam” ao Futebol um contributo extraordinário das suas valências, como a fisiologia, a metodologia de treino, a estatística, a medicina desportiva, a biomecânica, a psicologia, a nutrição., etc., que, associadas a uma programação cuidada em treino, conduzirão ao sucesso na competição.
Por isso, jamais devemos esquecer que quão importante é trabalhar (quer na pré época como no decorrer da mesma) no treino a força, a agilidade, a destreza, a velocidade, os princípios defensivos e ofensivos, as transições e bolas paradas, etc, inseridos de metodologias que por exemplo promovam a confiança no jogador, assegurando e encorajando-o relativamente à capacidade de ser bem sucedido; inserir no conceito de treino o aspeto motivacional, formulando-lhe objetivos difíceis e desafiadores de complexidade crescente; operacionalizar no conceito de treino técnicas de redução de stress com intenção clara de obtenção níveis ótimos de desempenho, utilizando técnicas de relaxamento apropriadas e em momentos claros de definição personalizada de funções (marcação de livres, grandes penalidades, etc); inserir no conceito de treino um elemento fundamental, que poderá resultar na simulação de condições adversas que os jogadores irão ter no jogo, instrumentalizando-as no sentido de tudo estar preparado para se ser bem sucedido, etc …
Numa pré-época, ao colocar todas estas dominantes (e muitas outras) em formas de jogo, está a potenciar-se argumentos fundamentais onde os tão famosos automatismos consubstanciados em rotinas, acabam por oferecer a expressão duma equipa como um todo, que pensa, executa e vive de forma coesa e solidária!...
Muito a dizer ainda no referente à pré época. Hoje ficarei por aqui. No próximo artigo abordarei um pouco a história e evolução de pré-épocas, desde os célebres crosses em montes e vales, caminhadas, corridas e jogos nos areais até aos treinos tridiários; a questão dos testes de avaliação, grau de importância e sua exemplificação; equipas que optam realizar trabalho de pré época em locais distantes, inserindo competições de dificuldade crescente ou simplesmente elevada; equipas que realizam competições em altitude ou que ultrapassam vários fusos horários…
Terminarei, anotando algumas temáticas associadas à adaptação e recuperação das condições para entrar no período competitivo ou no arranque de temporada, como se queira chamar , de corpo inteiro, voltadas para o sucesso!..."
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