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sexta-feira, 16 de junho de 2023

Guardiola não se discute, nem Bernardo Silva


"Guardiola já não se discute. Pode argumentar-se, até porque a derrota num debate pode doer mais do que num jogo, mas já não se discute. Não vão desaparecer as teorias de que gasta mais dinheiro do que os outros, o que nem sequer é verdade, ou de que não ganhou títulos com clubes menores, o que não quer dizer que não conseguiria, pelo menos como outros fizeram, desde que não se lhe exija a Bundesliga com o Friburgo ou a Taça de Portugal com o 1º de Dezembro.
Acabou, contudo, a teoria de que o seu futebol não se adequava à Champions ou de que tal sucesso não se repetiria sem haver Messi. A propósito, Haaland ajudou mas não foi sequer decisivo, já que não marcou nenhum dos golos ao Real Madrid ou ao Inter (nem os da final da Taça de Inglaterra frente ao United, a propósito). O City ganhou como equipa e o mérito maior há de ser de quem constrói equipas como ninguém antes.
Os números são simplesmente arrasadores. Com 52 anos de idade e apenas 14 anos de carreira já é o segundo treinador de sempre em troféus (35), a par de Lucescu, que envelheceu feliz no banco, mas com muitos sucessos em campeonatos de segunda linha, e só atrás de Ferguson, que tem 49, com uma dezena deles conquistados na Escócia.
E se Guardiola não celebrou troféus com clubes menores, isso também significa que os festejou todos em Ligas de competitividade máxima ou então na Europa. O futebol não regista nada sequer parecido. E como alguém disse sabiamente, mesmo que não nos lembremos de quantas vitórias conseguiu, teremos sempre ideia do futebol que nos trouxe, ofensivo, técnico, apaixonante, evolutivo, e esse é o maior legado de Josep Guardiola i Sala, o catalão de Santpedor.
Guardiola não foi menos Guardiola, foi mais, ainda mais. Essencialmente porque não parou de mudar para melhorar, e é isso que o faz continuar a ganhar.
No modelo de jogo, a grande contratação do Verão passado forçou uma mudança sensível, a que ele decidiu acrescentar outra. Por força da chegada de Haaland mudou a maneira de atacar, para poder ganhar a Champions alterou a forma de defender. O impacto do norueguês é brutal em todos os momentos do jogo, também pelo modo como influencia os comportamentos de qualquer adversário: quando a defender teme os cruzamentos, com bola em zona de risco apavora-se perante a hipótese de perda e transição, quando mais perto da área do City tem insónias com os metros que deixa nas costas para as acelerações do viking.
Mesmo quando faz pouco mais do que dividir os lances, Halaand impacta. E há poucos jogadores assim.
Depois foi a capacidade de se tornar quase inviolável na transição defensiva e na bola aérea, os momentos mais sensíveis em qualquer das suas equipas anteriores. Por via da utilização híbrida de Stones, conseguiu ter sempre em campo cinco jogadores rápidos e contundentes nos duelos, sem que fossem propriamente limitados com bola (à excepção de Walker). E com eles redesenhou a equipa, com linha de quatro firme atrás no momento defensivo, mas organização ofensiva feita para ganhar, reconvertida em 1.3.2.4.1 ou mesmo 1.2.3.5.
Alinhar Rodri e Stones por diante de Walker (ou Aké, na final de Instambul) Rúben Dias, Akanji poderia sugerir a alienação de criatividade por mais segurança. Sucede que esse quinteto não funcionou só como o grupo de caça-fantasmas nos duelos diante de Vini Júnior ou Rodrygo, Coman ou Gnabry, foi também a guarda pretoriana que permitiu liberdade aos talentos próprios. Foi também por isso que De Bruyne se manteve no topo mais um ano, enquanto Grealish, Gundogan e Bernardo Silva concretizavam, todos eles, as melhores temporadas da carreira.
Por falar em Bernardo Silva, o futebol foi justo com ele ao premiar, finalmente, com a Liga dos Campeões, a carreira de futebolista genial, muito tardiamente consensual. O baixinho que os colegas (e o treinador) adoram não é só o melhor jogador português há já alguns anos, é claramente um dos melhores do mundo e de todos os do City o que mais merecerá este ano ser candidato a Bola de Ouro."

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