"Etihad Stadium, meias-finais da Champions. Palco maior para um encontro entre equipas repletas de nomes consagrados e futuras estrelas do futebol mundial, orientadas por dois dos maiores treinadores da história do desporto-rei. Palco ideal para a afirmação/confirmação total de um talento que vale muito mais do que os números deixam antever. Um talento que entende o futebol como poucos, como viria a dizer Pep Guardiola na conferência de imprensa após o jogo.
Possuidor de uma inteligência superlativa no que toca à percepção e compreensão do jogo, Bernardo Silva é um dos maiores compêndios futebolísticos da actualidade. Um verdadeiro tratado na arte de pensar e executar acções em campo, com e sem bola, sempre ao serviço da ideia, do modelo e da equipa.
Um facto deveras assinalável, pois vivemos numa era em que ainda somos testemunhas privilegiadas da classe de Modric, Kroos, Kimmich, Alcântara ou De Bruyne. Ainda assim, não existem médios como o pequeno mago citizen por estes dias. Não ao mesmo nível. Não com a mesma importância, o mesmo “peso” e a mesma mais-valia para as suas equipas. Pelo que joga e faz jogar.
Se a bola é condição sine qua non para a ideia e o modelo de jogo de Don Pep, Bernardo Silva é condição sine qua non para que o Manchester City possa estar mais perto das boas exibições, das vitórias e, consequentemente, das conquistas.
A forma como equilibra e aglutina a equipa sem bola, ora pressionando alto, ora “cortando” linhas de passe, a forma como acalma e aglutina a equipa com bola, com passes no timing certo, com a velocidade exacta, sempre de acordo com o que o jogo pede, mostra-nos não só um jogador cada vez mais completo, como também leva-me a identificar Bernardo Silva como o actual rosto maior do Futebol Total iniciado por Rinus Michels na década de 70, desenvolvido por Johan Cruyff na década de 90 e aperfeiçoado por Guardiola desde a década passada.
Porque tudo em Bernardo Silva faz sentido. Todas as suas acções são coerentes e congruentes. Porque nada nele é vão e em vão. Há sempre um quê e um porquê a justificarem cada acção, cada gesto, cada tomada de decisão. Sempre em prol da equipa em que joga e da ideia que o abraça, embala, potencia e eleva numa relação tão saudável e recomendável quanto recíproca.
Faltar-lhe-ão muito provavelmente mais golos para que possa subir aos patamares de quem só premeia e enaltece aqueles que marcam. Mas tudo o que possa faltar a Bernardo Silva em termos de finalização sobrar-lhe-á no génio, no carácter, na alma, no coração e na inteligência com que joga, disfruta e faz-nos disfrutar sempre que pisa um campo de futebol."
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