"O prejuízo apresentado pela Benfica, SAD relativo ao 1.º semestre deste exercício é significativo, mas em certa medida expectável e gerível, obrigando, a médio prazo, a uma racionalização ou reorientação das políticas de investimento a cedência de activos para que se evitem constrangimentos.
É expectável porque assistimos a dois anos consecutivos de forte investimento na equipa de futebol, com impacto sobretudo na massa salarial (mas não nas amortizações de passes). Acresce que, em 2021/22, as receitas de alienações de passes não foram suficientes para compensar o nível de despesa. Comparando ao primeiro semestre da época passada, houve milhões de euros (!) nos ganhos com cedências de direitos de atletas.
Ademais, embora se verifique uma aproximação dos valores conseguidos pré-pandemia, as receitas comerciais estão ainda aquém do potencial que o Benfica já demonstrou ter. Com o volume de vendas de 2019, o prejuízo teria sido um pouco menor, na ordem dos 3 e 5 milhões de euros.
E é gerível devido à situação patrimonial muito vantajosa, com o activo a suplantar largamente o passivo. Apesar do prejuízo verificado, os capitais próprios continuam a ser muito positivos, próximos do montante do capital social. Tendo em conta que o objecto da SAD não é a rentabilidade financeira, nem alguma vez foi implementada uma política de distribuição de dividendos, é normal assistir-se a flutuações do resultado líquido em qualquer sentido, desde que a sustentabilidade económica e financeira esteja salvaguardada. Numa entidade como a Benfica, SAD, os lucros acumulados servem precisamente para, quando se considera necessário, se poder optar por uma política de investimento mais agressiva.
Mas tal não perdura indefinidamente no tempo, e sobre o futuro só há uma certeza, é incerto, importando, neste contexto, preservar uma almofada que garanta a sustentabilidade num eventual cenário penalizador.
Desde modo, a médio prazo, a Benfica, SAD terá de diminuir o investimento (em compras de passes de atletas e/ou terá de facturar mais em vendas de jogadores. Saliento o médio prazo: perante as contas apresentadas, não há qualquer urgência, salvo por eventuais questões de tesouraria, de proceder a uma inversão de políticas."
João Tomaz, in O Benfica
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